
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) divulgou nesta terça-feira (2) o relatório Desafios de Inteligência – Edição 2026, documento que antecipa riscos à segurança nas eleições de 2026 e à proteção do Estado. O material foi elaborado com apoio de universidades, centros de pesquisa e órgãos governamentais e elenca cinco temas prioritários: integridade do processo eleitoral, transição para criptografia pós-quântica, ataques cibernéticos autônomos baseados em inteligência artificial (IA), reconfiguração das cadeias globais de suprimento e crescente dependência tecnológica de provedores externos.
O estudo serve de subsídio à Presidência da República na formulação de políticas públicas e na salvaguarda de informações sensíveis. Em 2026, os brasileiros escolherão presidente, governadores, senadores e deputados; por isso, a Abin avalia que o pleito poderá ser alvo de tentativas de deslegitimar instituições, manipular a opinião pública e disseminar desinformação em grande escala. Também há preocupação com a atuação do crime organizado em áreas sob sua influência e com possíveis ingerências externas que busquem favorecer interesses geopolíticos.
No lançamento do relatório, o diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, afirmou que “as dinâmicas internacionais ganharam proeminência ao longo do último ano, exigindo atenção redobrada da inteligência brasileira”. Ele destacou o uso de ferramentas econômicas como instrumentos de pressão política e o aumento das ameaças militares a países latino-americanos, inclusive aos que fazem fronteira com o Brasil.
Na área tecnológica, a agência volta-se para a segurança cibernética e chama a atenção para a convergência entre IA e capacidade ofensiva digital. Segundo o documento, sistemas autônomos poderão planejar, executar e ajustar ataques sem intervenção humana, elevando o risco de incidentes que ultrapassem o ambiente virtual e desencadeiem conflitos militares. Para conter esse avanço, o órgão reforça a necessidade de migrar para algoritmos criptográficos pós-quânticos desenvolvidos no país, reduzindo a dependência de soluções estrangeiras.
O relatório aponta ainda vulnerabilidades estratégicas na infraestrutura nacional de dados, nuvem e identidade digital, dominada por grandes empresas de tecnologia sediadas no exterior. “Esses provedores concentram informações e desafiam a autonomia decisória do Estado”, alerta o texto, que classifica a soberania digital como “pilar da segurança governamental”.
Outro ponto crítico refere-se à reorganização das cadeias de suprimento. Fatores como a disputa econômica entre Estados Unidos e China e os gargalos expostos pela pandemia da covid-19 levaram a um cenário de “desglobalização deliberada”, com tarifas agressivas e menor participação do dólar nas transações internacionais. O Brasil, observa a Abin, mantém dupla dependência: superávit comercial ligado à venda de commodities para a China e necessidade de capital e tecnologia ocidentais, sobretudo dos EUA.
O estudo dedica capítulo às mudanças climáticas, lembrando que 2024 foi o ano mais quente já registrado, com elevação média de 1,5 °C em relação ao período pré-industrial. Seca na Amazônia, enchentes no Rio Grande do Sul e perdas econômicas de R$ 13 bilhões anuais ilustram a gravidade do quadro. Há ainda riscos para o setor energético, segurança alimentar e elevação do nível do mar, que ameaça populações costeiras e infraestrutura crítica.
A transição demográfica — marcada pelo envelhecimento populacional e redução da taxa de fecundidade —, além da migração de profissionais qualificados para o exterior, também recebe atenção. A chegada de estrangeiros ao Brasil, por sua vez, deve pressionar serviços públicos e aumentar a necessidade de vigilância nas fronteiras diante do crime transnacional.
Por fim, a Abin considera o ambiente digital a arena central da competição geopolítica contemporânea. Para Corrêa, “o Brasil precisa antecipar ameaças e fortalecer capacidades internas, garantindo a proteção de seus processos democráticos e de sua soberania tecnológica”.

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