
Com a proximidade do verão, a busca por métodos rápidos de perda de peso volta a crescer no país. Entre as táticas mais procuradas estão as fórmulas emagrecedoras vendidas pela internet, chás laxativos e combinações sem qualquer prescrição médica, todos anunciados como atalhos para “secar” o corpo em poucos dias.
O interesse ganhou força com a popularização de medicamentos indicados para diabetes que passaram a ser usados fora da bula, como Ozempic e Mounjaro. Dados da plataforma Conexa Saúde, extraídos do Google, mostram que o Brasil foi o segundo mercado que mais pesquisou esses fármacos no mundo. Somente em julho de 2025, foram 715 mil buscas por Ozempic e 586 mil por Mounjaro, reflexo de um público cada vez mais disposto a soluções de efeito rápido.
Risco elevado para órgãos vitais
Segundo o cirurgião gastrointestinal Lucas Nacif, membro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD), o uso indiscriminado dessas substâncias coloca diversos órgãos em perigo. “Esses produtos costumam reunir estimulantes, diuréticos e supressores de apetite sem controle de dosagem”, afirma o médico. De acordo com ele, o fígado é o primeiro a sofrer porque precisa metabolizar a mistura de compostos potencialmente tóxicos.
Entre os efeitos observados estão inflamação hepática, esteatose (acúmulo de gordura no órgão), hepatite tóxica e, em casos extremos, insuficiência hepática aguda. Os rins, responsáveis por filtrar o sangue, também podem ser sobrecarregados, assim como o coração, sujeito a arritmias e hipertensão severa. “Não há atalhos seguros para perder peso”, reforça Nacif.
Trato intestinal e deficiências nutricionais
O especialista alerta ainda para a irritação do trato gastrointestinal, que pode provocar dores abdominais, náuseas, vômitos e diarreia. O uso prolongado compromete a absorção de nutrientes e favorece deficiências vitamínicas. Em quadros extremos, as alterações cardiovasculares podem levar a óbito, principalmente em pessoas com doenças pré-existentes ou que excedem as doses recomendadas.
Anvisa reforça fiscalização
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lembra que apenas farmácias e drogarias autorizadas podem comercializar medicamentos, inclusive os fitoterápicos. Desde 2020, o órgão adotou mais de 60 medidas preventivas ou cautelares contra produtos irregulares comercializados como fórmulas emagrecedoras. As operações contam com apoio de vigilâncias sanitárias estaduais e municipais.
Especialistas recomendam que qualquer estratégia de redução de peso seja realizada sob acompanhamento médico e nutricional, com foco em reeducação alimentar e prática regular de atividade física. Sem orientação, o desejo de obter o “corpo do verão” rapidamente pode resultar em lesões permanentes no fígado, coração, rins e no sistema gastrointestinal.

Faça um comentário