
O Acordo de Paris, principal pacto global para conter o aquecimento do planeta, completa dez anos nesta sexta-feira, 12 de dezembro. Embora a Organização das Nações Unidas (ONU) considere o tratado um marco histórico, a avaliação oficial é de que o mundo ainda está longe de limitar a elevação da temperatura média a 1,5 °C, nível apontado pela ciência como limiar para evitar impactos climáticos potencialmente irreversíveis.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as emissões globais precisam cair 43% até 2030 para que a meta permaneça viável. O mecanismo do acordo obriga cada país a apresentar, em ciclos de cinco anos, suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) com metas de redução de gases de efeito estufa, planos de adaptação e estratégias de longo prazo rumo à neutralidade de carbono.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o período iniciado em 2026 deve marcar uma “nova década de implementação”. Para ele, “o Acordo de Paris está funcionando, mas a ação climática precisa ser mais rápida”. Em mensagem divulgada nesta data, Guterres lembrou que os últimos dez anos foram os mais quentes já registrados e destacou que, sem o tratado, a trajetória de aquecimento estaria acima de 4 °C; hoje, as projeções giram em torno de 2,5 °C.
No âmbito diplomático, a cooperação internacional continua sendo pilar do pacto, sobretudo para apoiar nações em desenvolvimento, historicamente responsáveis por parcela menor das emissões, mas mais vulneráveis a eventos extremos. O acordo reconhece a obrigação dos países industrializados em liderar o financiamento climático, a transferência de tecnologia e a capacitação necessária para a transição a economias de baixo carbono.
Presidente designado da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorrerá em Belém, o embaixador André Corrêa do Lago classificou o tratado como decisivo para destravar a agenda ambiental em 2015. “À época, estimava-se um aumento de cerca de 4 °C. Agora estamos em 2,5 °C, mas ainda precisamos garantir que não ultrapasse 1,5 °C”, declarou.
Para monitorar o progresso, entrou em vigor neste ano o Quadro de Transparência Reforçado, que exige relatórios padronizados sobre ações, resultados e recursos financeiros. Esses dados alimentarão o balanço global, instrumento que mede o avanço coletivo rumo às metas de longo prazo e orienta os próximos ciclos de compromissos nacionais.
Apesar dos avanços, vozes influentes alertam para a distância entre promessas e ação. Christiana Figueres, ex-secretária executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, afirmou em rede social que “já está claro que não conseguiremos eliminar totalmente os efeitos da mudança do clima, mas ainda podemos evitar os piores cenários se acelerarmos a redução de emissões e a regeneração dos ecossistemas”.
A pouco menos de cinco anos do prazo mais crítico, a pressão recai sobre governos e setores produtivos para elevar a ambição das NDCs, ampliar investimentos em energia limpa e consolidar fontes de financiamento que permitam uma transição justa. A próxima COP, no Brasil, será considerada teste decisivo para verificar se as maiores economias estão dispostas a transformar compromissos em medidas concretas.

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