Agrofloresta alia lavoura e árvores para reduzir impacto climático global

A integração de culturas agrícolas com espécies florestais, prática conhecida como agrofloresta, foi apontada por especialistas e representantes do governo brasileiro como ferramenta decisiva para mitigar e enfrentar os efeitos das mudanças climáticas. O tema ganhou evidência nas plenárias da COP 30, realizada em Belém (PA), onde o país apresentou iniciativas que unem produção de alimentos, conservação ambiental e geração de renda.

Segundo Moisés Savian, engenheiro agrônomo e secretário de Governança Fundiária e Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, o modelo atua em duas frentes: reduz as emissões de dióxido de carbono ao ampliar a cobertura vegetal e aumenta a resiliência das lavouras a eventos extremos, como secas e chuvas intensas. “Quando transformamos um pasto degradado em agrofloresta, retiramos carbono da atmosfera; ao mesmo tempo, oferecemos sombra e umidade que protegem culturas sensíveis, como o milho”, afirmou.

A lógica do sistema baseia-se na interação entre plantas de diferentes portes e ciclos. Árvores de raízes profundas captam água em camadas inferiores do solo, favorecendo espécies alimentícias cultivadas abaixo de sua copa. A diversidade reduz a necessidade de agrotóxicos e devolve nutrientes ao terreno, convertendo-o em sumidouro de carbono. Para Savian, trata-se de “agricultura de baixo carbono e biodiversa, fundamental para restaurar áreas já desmatadas sem abrir novas frentes de expansão”.

Intercâmbio Brasil–França fortalece práticas sustentáveis

No interior da Bahia, o município de Botuporã integra um consórcio de cooperação com comunidades da Alsácia do Norte, na França, iniciado em 2021. O projeto promove capacitação de agricultores e jovens lideranças em técnicas agroecológicas e de agrofloresta. O estudante Yago Fagundes, de 20 anos, participou de uma imersão em propriedades francesas com certificação orgânica e hoje aplica o aprendizado em sua região. “A experiência mostrou que aumentar a matéria orgânica do solo o transforma em reserva de carbono e em fonte de água para períodos de estiagem”, relatou.

Em contrapartida, voluntárias francesas passaram oito meses na cidade baiana aprendendo métodos de agricultura orgânica adaptados ao semiárido. O intercâmbio resultou em um livro que sistematiza as principais técnicas compartilhadas e foi lançado durante o Festival Nosso Futuro, em Salvador.

Ancestralidade e iniciativas individuais

Pesquisadores destacam que a agrofloresta não é novidade: povos indígenas da Amazônia manejam sistemas semelhantes há milhares de anos, utilizando mais de duas mil espécies da biodiversidade local para alimentação e medicina. No meio urbano, práticas domésticas também ganham força. O jornalista socioambiental William Torres cultiva hortaliças no quintal do Rio de Janeiro inspirado nos ensinamentos de sua avó. Para ele, ações individuais complementam estratégias coletivas ao “contrapor a lógica exploratória do agronegócio”.

Desafios de mercado e financiamento

Para acelerar a adoção do modelo, Savian defende linhas de crédito específicas aos pequenos produtores e incentivos de nações desenvolvidas. Ele cita ainda a necessidade de ajustar a cadeia de comercialização: redes varejistas já testam prateleiras dedicadas a “produtos da floresta” com pagamento antecipado aos agricultores, reduzindo a pressão de caixa sobre quem produz.

Ao apresentar a agenda de “florestas produtivas” na COP 30, o governo brasileiro reforçou que pretende ampliar a cobertura florestal em áreas degradadas, conciliando conservação e produção. “A agrofloresta é uma dose contínua de recuperação: não resolve em um dia, mas, aplicada de forma constante, contribui de maneira decisiva para enfrentar a emergência climática”, concluiu o secretário.

CURTA NOSSA PÁGINA NO FACEBOOK!

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*