Dermatologistas cobram atenção específica à saúde da pele negra no Brasil

Especialistas em dermatologia alertam que pessoas negras e pardas, maioria da população brasileira, ainda encontram dificuldades para receber cuidados adequados para a pele. A constatação ganhou força durante o 58º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em 2025, quando o evento abriu, pela primeira vez, uma atividade exclusiva sobre pele negra.

O médico Cauê Cedar, chefe do Ambulatório de Pele Negra do Hospital Universitário Pedro Ernesto, explica que os livros e atlas usados na formação médica quase sempre exibem fotografias de pacientes brancos. “Muitos profissionais não aprendem a reconhecer como as doenças se manifestam em diferentes tonalidades de pele”, resume. Segundo ele, isso pode retardar diagnósticos ou levar a prescrições pouco eficazes.

Entre as particularidades listadas por Cedar estão maior tendência a hiperpigmentação, queloides e necessidades específicas de cuidados para cabelos cacheados e crespos. O próprio especialista diz ter buscado formação extra para compreender essas demandas, já que a residência não oferecia conteúdo específico.

A falta de orientação adequada também afeta pacientes. O médico clínico geral Thales de Oliveira Rios relata que conviveu por anos com oleosidade e acne sem sucesso nos tratamentos. A situação mudou quando recebeu recomendações baseadas no seu fototipo. “Com produtos certos para clarear manchas e um protetor solar adequado, em quatro meses meu rosto estava diferente”, conta.

A indústria de cosméticos começa a reagir, mas ainda avança lentamente. Protetores solares sem cor costumavam deixar um resíduo esbranquiçado, enquanto versões com cor não se adaptavam às diversas tonalidades de pele negra, o que diminuía a adesão dos usuários. Hoje já existem fórmulas específicas, reflexo de um mercado que reconhece o potencial de consumo desse público.

No âmbito institucional, a regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Dermatologia criou o Departamento de Pele Étnica. A presidente da entidade, Regina Schechtman, afirma que o objetivo é atualizar profissionais sobre variações na dermatoscopia e em outros exames. “Qualquer médico deve incorporar esse conhecimento à prática clínica”, reforça.

Apesar de o câncer de pele atingir com mais frequência pessoas de menor pigmentação, os especialistas lembram que a radiação ultravioleta também ameaça indivíduos negros. Por isso, alertam para o uso diário de filtro solar adequado ao tom da pele e para a necessidade de consultas periódicas com dermatologistas capacitados.

A expectativa é que a inclusão de temas relacionados à saúde da pele negra nos currículos de graduação, nos programas de residência e nos grandes congressos acelere mudanças na assistência e reduza desigualdades históricas nesse campo.

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