
Milhares de pessoas ocuparam a Avenida Paulista, em São Paulo, neste domingo, 7 de dezembro de 2025, para cobrar respostas ao crescimento dos casos de feminicídio no país. Convocado em menos de dez dias por coletivos do Levante de Mulheres, o protesto integrou uma mobilização nacional que ocorreu simultaneamente em todos os estados, segundo as organizadoras.
Faixas, cartazes e falas em carros de som pediam penas mais severas para crimes motivados por misoginia, além de políticas públicas permanentes de prevenção e de combate ao discurso de ódio contra mulheres. A manifestação também debateu temas estruturais ligados à violência de gênero, como educação, legislação e liberdade.
A professora Jessica Torres, 39 anos, decidiu participar para tornar visível, segundo ela, o impacto da misoginia no cotidiano. “A violência começa quando o direito de existir é ferido”, afirmou. Ela defende que a escola introduza o tema desde a educação infantil, pois crianças reproduzem comportamentos familiares, inclusive os discriminatórios.
Trabalhando com turmas de seis a oito anos, a pedagoga Fernanda Prince, 34 anos, relatou facilidade em dialogar com esse público. Para a docente, questões aparentemente inocentes, como divisão de brinquedos por gênero, podem alimentar estereótipos que mais tarde sustentam agressões. “Não tem mais como ficar fora da rua diante de tantos casos”, disse, referindo-se ao volume de assassinatos e à circulação de conteúdos machistas nas redes sociais.
Moradora da zona sudeste da capital, Maria das Graças Xavier, 58 anos, levou um grupo ligado ao movimento de moradia. Ela destacou que o chamado para o ato foi rápido e ganhou força em diversos estados, incluindo Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. Para Graça, a participação do Estado é decisiva na construção de campanhas educativas e de redes de proteção. “Nas periferias vemos mulheres feridas ou mortas porque alguns homens não aceitam a igualdade”, declarou.
Durante toda a tarde, centenas de cartazes pediram leis mais duras. A comerciante Lilian Lupino, 47 anos, resumiu a cobrança: “Existe uma cultura milenar de opressão. Os homens se sentem protegidos porque faltam punições severas”.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o país registra, em média, um feminicídio a cada sete horas, indicador citado por organizadoras para reforçar a urgência de medidas. As manifestantes reivindicam:
- aprovação de projetos que aumentem as penas para feminicídio e violência doméstica;
- ampliação de delegacias especializadas e casas de acolhimento;
- campanhas educativas contínuas nas escolas;
- monitoramento de conteúdos de ódio nas plataformas digitais.
O ato seguiu em direção ao centro da cidade no início da noite, sem registro de incidentes, de acordo com a Polícia Militar. Os organizadores anunciaram novos protestos até o fim do ano e afirmaram que manterão pressão sobre o Congresso para avançar em projetos de lei contra o feminicídio.

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