
O segundo diálogo regional do Balanço Ético Global (BEG) ocorrerá em 21 de agosto, em Bogotá, capital da Colômbia. Conduzido pela ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, o encontro reunirá representantes da sociedade civil da América do Sul, América Central e Caribe para examinar, sob uma ótica ética, as metas previstas nos acordos climáticos multilaterais.
A iniciativa integra os círculos de mobilização que antecedem a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Além do BEG, foram criados o Círculo dos Povos, o Círculo de Ministros de Finanças e o Círculo de Ex-presidentes das COPs. Todos têm a tarefa de produzir subsídios que orientem negociadores e líderes políticos na definição de compromissos para limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Durante o encontro de Bogotá serão discutidos objetivos como triplicar a capacidade de energia renovável, duplicar a eficiência energética, promover a transição para o fim do desmatamento e reduzir gradualmente o uso de combustíveis fósseis. A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, Marina Silva, ressalta que a proposta é “trazer o ponto de vista de mulheres, jovens, cientistas, lideranças religiosas e povos tradicionais” para avaliar o que já foi feito e o que ainda precisa ser implementado.
Segundo Marina Silva, a análise ética serve para identificar falhas de implementação. “Que ações deixaram de ser feitas para chegar à atual emergência climática?” questiona a ministra, ao defender maior participação social na construção de soluções.
A metodologia do Balanço Ético Global prevê seis diálogos presenciais, um em cada continente, além de debates autogestionados organizados por entidades locais. Os relatos produzidos em cada região serão entregues até o fim de setembro. Em seguida, uma equipe técnica consolidará as contribuições num relatório-síntese que deverá ser concluído antes da Pré-COP, marcada para outubro, em Brasília. O documento será encaminhado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, posteriormente, apresentado a chefes de Estado durante as negociações formais.
O primeiro diálogo do BEG foi realizado em Londres, onde representantes europeus enfatizaram a importância da ciência no enfrentamento da crise climática e defenderam uma nova relação da sociedade com os ecossistemas. “Devemos olhar a natureza como nosso lar comum, um espaço de bem-estar e de bem viver”, relatou Marina Silva ao comentar a etapa britânica.
Para Michelle Bachelet, que lidera o processo na região latino-caribenha, o encontro em Bogotá é uma oportunidade de alinhar prioridades regionais aos desafios globais. Em nota, a ex-presidente chilena afirma que as reflexões servirão para “orientar as nações a liderar não apenas pela biodiversidade, mas também com justiça e ética”.
A diretora executiva da COP30, Ana Toni, classifica o BEG como um componente decisivo do processo preparatório. “É como se fosse uma bússola ética que vai guiar negociações e a agenda de ação”, declarou a gestora, ao sublinhar a necessidade de coerência entre compromissos assumidos e políticas públicas implementadas.
A escolha de Bogotá para sediar o segundo diálogo considera a relevância estratégica da Colômbia nos debates sobre florestas tropicais e transição energética. O país integra a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica e tem buscado ampliar a produção de energias renováveis, sobretudo solar e eólica, temas que convergem com os eixos do Balanço Ético Global.

Imagem: Marcelo Camargo via agenciabrasil.ebc.com.br
Os participantes do encontro deverão apresentar estudos de caso e propostas concretas. Entre os exemplos esperados estão iniciativas de conservação de biomas, programas de reflorestamento comunitário, alternativas para financiar energia limpa e compromissos empresariais de redução de emissões. Os organizadores destacam que todas as contribuições serão incorporadas ao relatório regional, independentemente do proponente, desde que se baseiem em evidências técnicas e observem critérios de transparência.
Sob a perspectiva de governança climática, o BEG procura preencher uma lacuna identificada após a adoção do Acordo de Paris, em 2015. Embora exista um mecanismo oficial de revisão de metas, conhecido como Global Stocktake, os organizadores consideram essencial adicionar uma camada ética que reflita a pluralidade de valores culturais. O processo visa fortalecer a confiança entre atores governamentais e não governamentais, fator considerado crítico para aumentar a ambição climática global.
Além dos debates programados, o evento em Bogotá inclui sessões temáticas paralelas sobre direitos humanos, gênero, juventude, financiamento verde e soluções baseadas na natureza. Delegações devem apresentar recomendações específicas para cada tema, reforçando a conexão entre justiça social e ação climática.
Concluído o ciclo de diálogos regionais, o Balanço Ético Global pretende entregar um conjunto de orientações conciso, articulado em linguagem acessível, que possa ser utilizado por decisores públicos, setor privado e organizações da sociedade civil. A expectativa é que o material ajude a converter metas de emissões e preservação em políticas efetivas, com monitoramento transparente e responsabilidade compartilhada.
A COP30, prevista para 2025 em Belém (PA), será o momento de verificação desses esforços. Até lá, os organizadores do BEG pretendem manter um calendário de consultas, garantindo que as recomendações evoluam junto com os avanços científicos e as demandas sociais.
Com a etapa de Bogotá, a América Latina assume papel de destaque na construção de uma agenda climática ancorada em ética, justiça e participação ampla, reforçando a necessidade de integração regional na busca por soluções globais.
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