
O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, afirmou nesta quinta-feira (14), em São Paulo, que o governo continuará buscando entendimento para reduzir as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras. Ao mesmo tempo, garantiu que o país não aceitará qualquer condição que comprometa sua soberania.
“O primeiro passo é manter o diálogo, mas em hipótese alguma abriremos mão da soberania”, declarou o ministro, acrescentando que o Executivo não negociará temas fora de sua competência, como possíveis intervenções no Poder Judiciário. As sobretaxas norte-americanas, apelidadas de tarifaço dos EUA, foram decretadas pelo presidente Donald Trump em meio às investigações sobre a tentativa de golpe que procurou reverter o resultado das eleições de 2022.
Além das tarifas, Washington abriu investigação comercial contra o Brasil e aplicou sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Diante desse cenário, o Palácio do Planalto lançou na quarta-feira (13) um pacote emergencial de R$ 30 bilhões em linhas de crédito, formalizado pela Medida Provisória MP Brasil Soberano, para amparar empresas atingidas pelo tarifaço dos EUA.
Medidas para setores mais afetados
Segundo Fávaro, o pacote é apenas o início de uma série de iniciativas. “Certamente precisaremos de novas ações para lidar com as particularidades geradas”, comentou. O ministro destacou o caso do suco de laranja, que teve tarifa retirada, mas segue vulnerável a impactos indiretos. Outros segmentos dependentes do mercado norte-americano devem receber tratamento diferenciado.
“Se uma indústria destina 80% ou 90% de sua produção aos Estados Unidos, sofrerá muito mais do que outra que exporta 20%”, explicou. Entre as possibilidades em estudo estão prorrogação de débitos, redução tributária específica e apoio logístico para redirecionar embarques a novos destinos.
O governo também pretende ampliar aquisições públicas para absorver parte da produção inicialmente prevista para os EUA. Manga e pescado são exemplos já citados por Fávaro: “Vamos colocar mais manga e mais pescado na merenda escolar e nas compras das Forças Armadas. Esse consumo interno ajuda a compensar a demanda perdida”.
Expansão de mercados externos
Enquanto negocia a revisão do tarifaço dos EUA, o Itamaraty e o Ministério da Agricultura intensificam a abertura de novos destinos para o agro brasileiro. Fávaro informou que o país atingiu 400 mercados liberados desde o início da atual gestão. “Nunca se abriu tanto mercado. A orientação do presidente Lula é acelerar ainda mais”, disse.
A diversificação geográfica é apontada como instrumento crucial para reduzir a dependência de qualquer parceiro e, consequentemente, a vulnerabilidade a medidas protecionistas. Paralelamente, o governo negocia acordos sanitários e fitossanitários para consolidar essas novas rotas de exportação.
Infraestrutura e competitividade
No mesmo dia, Fávaro acompanhou, ao lado do ministro dos Transportes, Renan Filho, o leilão da Rota do Agro na B3, que concedeu trechos das BR-060 e BR-364 em Goiás e Mato Grosso. O Consórcio Rota Agro Brasil venceu com deságio de 19,70% na tarifa de pedágio, resultado considerado expressivo pelo governo.

Imagem: Paulo Pinto
Renan Filho atribuiu a forte disputa — cinco concorrentes — à segurança jurídica e à previsibilidade dos projetos. “Foi o leilão rodoviário mais competitivo dos últimos anos”, afirmou. Ele destacou que, de 2023 até agora, já foram contratados R$ 176 bilhões em investimentos privados para rodovias, superando o volume desembolsado entre 1998 e 2022.
Para o titular dos Transportes, a melhora na infraestrutura é parte da estratégia para enfrentar barreiras comerciais. “Quanto melhor a nossa logística, mais preparados estaremos para a guerra tarifária. Tarifas são muros artificiais; com rodovias eficientes, reduzimos custos e ganhamos competitividade”, declarou.
O governo projeta realizar ainda cinco ou seis licitações rodoviárias até dezembro. Caso se confirme, o número total de 14 ou 15 leilões será o maior já registrado em um único ano, conforme Renan Filho.
Próximos passos na disputa tarifária
O Ministério da Agricultura articula reuniões técnicas com órgãos norte-americanos para discutir a retirada ou ao menos a redução gradativa do tarifaço dos EUA. As conversas envolverão ainda o Ministério das Relações Exteriores e representantes do setor privado brasileiro. Embora o governo considere o diálogo indispensável, Fávaro reiterou que qualquer acordo precisará respeitar limites constitucionais e não poderá envolver ingerência externa em assuntos internos.
Enquanto isso, as empresas afetadas contam com o pacote de crédito, os programas de compras governamentais e a busca por novos mercados como amortecedores imediatos. A eficácia dessas medidas dependerá da velocidade de implementação e da capacidade de direcionar recursos para os segmentos com maior exposição às tarifas norte-americanas.
Combinando política comercial, apoio financeiro e investimentos em infraestrutura, Brasília pretende reduzir os efeitos do tarifaço dos EUA sem renunciar a princípios de soberania. A negociação continuará, porém dentro de parâmetros que o governo considera inegociáveis.
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