
A Polícia Militar da Paraíba cumpriu, na manhã de quarta-feira (13), mandado de busca e apreensão na residência do influenciador digital Hytalo Santos, localizada em um condomínio de alto padrão em João Pessoa (PB). A medida foi autorizada pelo juiz Adhailton Lacet Correia Porto, da Primeira Vara da Infância e Juventude, após pedido do Ministério Público da Paraíba (MPPB). O objetivo era recolher celulares, computadores, câmeras e demais equipamentos usados para a produção de vídeos e publicações que, segundo as investigações, expõem crianças e adolescentes de forma ilegal.
Quando os agentes chegaram ao imóvel, encontraram a casa vazia e com as portas trancadas. Funcionários da administração do condomínio informaram que o influenciador retirou seus pertences pouco antes da chegada da polícia. Para o magistrado, a retirada dos equipamentos pode configurar tentativa de obstrução da investigação, hipótese que pode levar à decretação de prisão preventiva.

Investigação sobre exploração e “adultização” de menores
Hytalo Santos é investigado por suposta exploração de menores em ambiente digital. O inquérito, instaurado no fim de 2024, apura se o influenciador lucrou com conteúdos que promovem a chamada “adultização” de crianças e adolescentes, prática caracterizada por sexualizar a aparência ou o comportamento dos menores para fins de entretenimento ou publicidade.
Além da busca e apreensão, o juiz determinou:
- Suspensão dos perfis do investigado em Instagram, TikTok, YouTube e Facebook;
- Bloqueio de toda monetização proveniente das plataformas digitais;
- Remoção de postagens que exponham menores de idade;
- Afastamento das crianças do convívio com o influenciador, com acompanhamento do Conselho Tutelar e posterior encaminhamento aos responsáveis legais ou a instituições de acolhimento.
Na decisão, o magistrado menciona indícios de violação aos direitos fundamentais das crianças, entre eles possível incitação à pornografia infantil e prática de crimes contra a dignidade sexual. O Ministério Público do Trabalho (MPT) também participa das apurações para verificar eventuais casos de trabalho infantil digital e tráfico de pessoas.
Denúncias começaram em 2024
O procedimento teve início a partir de denúncias anônimas encaminhadas ao MPPB no final do ano passado. Moradores do condomínio relataram festas frequentes na casa do influenciador, com presença de adolescentes, consumo de bebidas alcoólicas e suposto uso de entorpecentes. Esses relatos motivaram a abertura de investigação criminal e a atuação de diversos órgãos de proteção à infância.
Os pais e responsáveis das crianças que aparecem nos vídeos também são alvo de apuração, suspeitos de omissão no dever de cuidado. Segundo o MPT, há indícios de que os menores eram submetidos a jornadas de gravação sem controle de horário ou remuneração adequada, o que poderia caracterizar exploração de mão de obra infantil.
Repercussão nas plataformas digitais
Após a decisão judicial, as principais redes sociais tomaram medidas para restringir a presença do influenciador. O Instagram desativou a conta de Hytalo Santos, o YouTube suspendeu a monetização de seu canal e o TikTok baniu o perfil pela segunda vez em 2025. As plataformas confirmaram que colaboram com as autoridades, fornecendo informações e bloqueando receitas geradas por conteúdos que violem direitos de menores.
Manifestação do influenciador
Em nota oficial divulgada por sua assessoria, Hytalo Santos negou todas as acusações e afirmou que está em São Paulo a trabalho há mais de um mês. “Repudio categoricamente qualquer acusação de exploração de menores. Minha trajetória sempre foi guiada pelo compromisso com a proteção de crianças e adolescentes”, declarou. Ele também disse que não tentou se esquivar da Justiça. “Jamais me ocultei ou obstruí investigações. Estou à disposição das autoridades para todo e qualquer esclarecimento”, pontuou.
O influenciador acrescentou que considera as denúncias “narrativas infundadas” e avisou que voltará a se pronunciar somente nos autos do processo. Até o momento, não há informação sobre data para eventual depoimento presencial, mas a defesa confirmou que foi notificada das ordens judiciais.
Próximos passos do processo
Os equipamentos eletrônicos apreendidos deverão passar por perícia no Instituto de Polícia Científica da Paraíba. Técnicos vão analisar arquivos de vídeo, mensagens e históricos de transações financeiras para verificar se há provas de exploração de menores e obtenção de lucro irregular. Os resultados serão encaminhados ao Ministério Público, que poderá oferecer denúncia formal ou solicitar novas diligências.
Enquanto a análise pericial não é concluída, o juiz manteve a suspensão dos perfis e da monetização de Hytalo Santos. Caso surjam indícios de destruição de provas ou tentativa de intimidação de testemunhas, o magistrado poderá decretar prisão preventiva. Se condenado, o influenciador pode responder pelos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no Código Penal, cujas penas somadas podem ultrapassar dez anos de reclusão.
O Conselho Tutelar acompanha as crianças afastadas do convívio com o investigado e realiza visitas periódicas às famílias. Segundo o órgão, até a tarde de quinta-feira (14) nenhuma das crianças apresentava sinais físicos de violência, mas assistentes sociais continuarão avaliando possíveis danos psicológicos decorrentes da exposição na internet.
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