
Destinar o 13º salário à reforma de casa pode ser vantajoso, mas requer planejamento rigoroso para que a iniciativa não se transforme em endividamento. O alerta parte de especialistas em finanças pessoais e arquitetura, que recomendam orçamento detalhado, limite de gastos e atenção às despesas de início de ano.
Na Vila Natal, zona sul de São Paulo, a família Climaco serve de exemplo. Os irmãos Allan e Alex, que trabalham com carteira assinada, decidiram usar o abono de fim de ano para concluir quatro pequenas moradias erguidas no terreno onde os pais vivem há duas décadas. A construção começou em julho, sem projeto formal, para abrigar a avó que passará a morar com eles e, ao mesmo tempo, resolver vazamentos na laje.
Embora o pai, Arnaldo Tomas da Silva, tenha acelerado a obra graças a serviços extras obtidos de julho a setembro, a ausência de um orçamento fechado elevou a chance de retrabalho. “Começar sem projeto é o erro mais comum”, afirma a arquiteta Cristiane Schiavoni. Segundo ela, pesquisas indicam que a falta de planejamento pode acrescentar mais de 20% ao custo final.
Limites de uso do 13º salário
Para o consultor financeiro Renan Diego, o 13º pode ser um bom recurso quando a reforma aumenta o valor do imóvel ou previne problemas estruturais. No entanto, a recomendação é concluir os pagamentos à vista sempre que possível, evitando parcelamentos que ultrapassem 20% da renda líquida da família.
Despesas típicas de janeiro, como IPTU, IPVA e matrícula escolar, devem entrar na conta. Caso existam prestações, elas precisam caber no orçamento ao lado desses compromissos. “Parcelas muito longas reduzem a capacidade de poupança ao longo do ano”, observa Diego.
O planejador financeiro Ivan Vianna, certificado CFP, sugere limitar a aplicação do 13º a 60% do valor recebido, reservando entre 10% e 20% para imprevistos. Ele também recomenda comparar ao menos três orçamentos de fornecedores, controlar custos em planilha e revisar semanalmente o avanço da obra.
Definição de prioridades
Quando falta recurso para fazer tudo de uma vez, a obra pode ser dividida. Schiavoni orienta iniciar pela infraestrutura — infiltrações, vazamentos e parte elétrica — antes de avançar para banheiros, áreas molhadas como a cozinha e, por último, ambientes secos. Reformas urgentes, que envolvem riscos de segurança ou danos ao imóvel, devem receber prioridade mesmo que exijam todo o 13º salário, destacam os consultores.
Evitar gastos desnecessários
Para conter custos, Vianna sugere estabelecer um valor máximo antes do início da reforma, separar categorias de despesa (materiais, mão de obra, transporte) e manter reserva emergencial. Se o objetivo é equilibrar obra e investimentos, o especialista indica destinar parte do 13º a produtos de liquidez diária — como Tesouro Selic ou CDBs — enquanto outra fatia cobre a reforma.
Allan Climaco enxerga a iniciativa familiar como investimento de longo prazo. A conclusão das unidades, prevista para três meses, deverá gerar renda extra com aluguel. A expectativa reforça a orientação dos especialistas: quando bem planejada e financiada de forma responsável, a reforma pode valorizar o patrimônio sem comprometer o orçamento doméstico.

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