COP30 entra na reta final com impasses sobre metas e fundos

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) inicia sua segunda e decisiva semana em Belém, com ministros de todo o mundo assumindo as negociações para tentar selar, por consenso, os principais acordos que orientarão a ação climática nos próximos anos.

Na noite de domingo (16), a presidência do encontro divulgou um resumo das consultas sobre quatro pontos de pauta que ainda não obtiveram apoio unânime para avançar. Entre eles estão o pedido de ampliação das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e a definição de novas metas de financiamento climático de países desenvolvidos para nações em desenvolvimento.

Outro tema central, já formalmente incluído na agenda, mas ainda sem concordância, é a Meta Global de Adaptação (GGA, na sigla em inglês). Trata-se de um dos resultados mais esperados da COP30, pois estabelecerá indicadores globais para medir o progresso das políticas de adaptação e resiliência.

Pressão por “mapas do caminho”

O documento divulgado pela presidência reconhece a importância do multilateralismo e cita o Acordo de Paris, mas não apresenta diretrizes concretas para eliminar o desmatamento nem para a transição energética rumo ao abandono dos combustíveis fósseis. “O texto oferece opções, mas ainda carece de encaminhamentos claros”, avalia Liuca Yonaha, vice-presidente do Instituto Talanoa.

Organizações da sociedade civil temem que o tema fique fora da decisão final. Segundo Fernanda Bortolotto, da The Nature Conservancy Brasil, “mais de 60 países já manifestaram apoio à inclusão de roteiros para zerar o desmatamento e substituir os fósseis, porém isso ainda precisa aparecer no texto oficial”.

Segmento político assume negociações

A partir desta segunda-feira (17), chefes de delegação — geralmente ministros de primeira linha — conduzem as discussões. Tradicionalmente, cabem a eles os ajustes políticos que destravam impasses técnicos elaborados na primeira semana.

No plenário de alto nível, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, reiterou a meta brasileira de apresentar “mapas de ação” para a transição energética e a eliminação do desmatamento ilegal, apresentados como possíveis legados da COP30.

Adaptação climática em disputa

O rascunho da Meta Global de Adaptação propõe cerca de 100 indicadores, mas enfrenta resistência do Grupo Africano, apoiado por nações árabes, que defende prolongar o debate técnico por mais dois anos, adiando uma decisão para 2027. Representantes de vários países trabalharão ao longo da semana para tentar aprovar o conjunto de indicadores ainda em Belém.

No mesmo tema, seguem para análise ministerial os textos sobre os Planos Nacionais de Adaptação (NAPs) e o Fundo de Adaptação, ambos considerados essenciais para acompanhar avanços e financiar projetos em países vulneráveis.

Transição justa também sem acordo

Permanece pendente a criação de um programa de trabalho sobre transição justa, iniciativa que busca analisar os impactos socioeconômicos da descarbonização e apoiar trabalhadores em setores em declínio. O rascunho foi remetido aos ministros, mas ainda não há convergência.

Para Anna Cárcamo, do Greenpeace Brasil, a presença de autoridades de alto nível precisa ser convertida em decisões objetivas. “Precisamos de mais pressão para assegurar caminhos claros que conduzam ao fim do desmatamento e dos combustíveis fósseis”, afirmou.

As negociações prosseguem até o fim da semana, quando a presidência pretende apresentar o conjunto final de decisões. Caso os impasses persistam, alguns temas podem ser transferidos para futuras conferências, ampliando a incerteza sobre o ritmo da ação climática global.

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