
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, avaliou neste sábado (15) que o recente corte tarifário dos Estados Unidos sobre cerca de 200 produtos alimentícios representa “um passo na direção correta”, mas ainda deixa o Brasil em condição desfavorável.
Na sexta-feira (14), Washington revogou a chamada taxa de reciprocidade, tarifa global de 10% criada em abril para todas as origens. Apesar da redução, permaneceu a sobretaxa de 40% aplicada exclusivamente ao Brasil desde julho. Com isso, itens como café, carne bovina, frutas e castanhas passaram de 50% para 40%, enquanto o suco de laranja, antes tributado em 10%, teve a alíquota zerada.
“Há uma distorção que precisa ser corrigida. Todo mundo teve dez pontos percentuais de alívio, mas o Brasil continua com 40%, que é muito alto”, afirmou Alckmin no Palácio do Planalto. Segundo ele, o suco de laranja foi o setor mais beneficiado, com potencial adicional de exportação estimado em US$ 1,2 bilhão.
O vice-presidente ressaltou que concorrentes diretos receberam cortes maiores. O café brasileiro, por exemplo, caiu de 50% para 40%, ao passo que produtores como o Vietnã obtiveram redução de 20 pontos percentuais. “Esse é o esforço agora: buscar mais competitividade”, observou.
Impacto nas exportações
Com a eliminação da tarifa global de 10%, a parcela das exportações brasileiras isenta de sobretaxas nos EUA subiu de 23% para 26%, algo em torno de US$ 10 bilhões. A mudança ocorre após o chamado “tarifaço”, período entre agosto e outubro em que o déficit brasileiro na balança com os norte-americanos avançou 341%.
Setor por setor:
- Suco de laranja: tarifa reduzida de 10% para 0%.
- Café: alíquota recuou de 50% para 40%; vendas externas somaram US$ 1,9 bilhão em 2024, mas caíram 54% em outubro na comparação anual.
- Carne bovina e frutas: também passaram de 50% para 40%, com ganho considerado limitado pela sobretaxa remanescente.
Diplomacia e negociações
Alckmin atribuiu o avanço a sucessivas conversas entre autoridades dos dois países. Ele citou o contato telefônico de outubro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o então presidente norte-americano Donald Trump, além de reuniões do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado Marco Rubio. “A última ordem executiva de Trump foi positiva”, disse.

O Brasil, lembrou o vice-presidente, continua sendo importador líquido dos Estados Unidos. “O Brasil não é problema, é solução”, resumiu, ao defender nova rodada de diálogo para eliminar a sobretaxa de 40% e reequilibrar a balança.
Outros produtos contemplados
O ministro recordou que, em setembro, Washington reduzira a tarifa de 50% para 0% sobre ferro-níquel e celulose de origem brasileira. Em outubro, baixou de 50% para 40% a alíquota de madeira macia e serrada, e de 50% para 25% a de armários, móveis e sofás. Esses cortes, feitos com base na Seção 232 da legislação comercial norte-americana, valeram para todos os exportadores e não alteraram a competitividade relativa do Brasil.
Posição dos EUA
A Casa Branca justificou o ajuste como estratégia para conter a inflação de alimentos e ampliar a oferta interna. Donald Trump afirmou tratar-se de “pequeno recuo” e não vê necessidade de novos cortes no curto prazo, mas espera que preços de itens como o café, agora com tarifa de 40%, recuem.
Embora reconheça o alívio imediato, o governo brasileiro pretende manter as negociações para eliminar a sobretaxa de 40% e aproximar as condições do Brasil às de seus competidores, reforçando a pauta de exportação de alimentos e commodities ao principal mercado mundial.

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