
A tentativa de venda do Banco Master ao Banco de Brasília (BRB), seguida da liquidação da instituição e da prisão do controlador Daniel Vorcaro, desencadeou uma série de eventos que envolveram Banco Central, Ministério Público, tribunais e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Abaixo, os principais capítulos da crise, de março de 2025 até dezembro, e as interações com o Poder Judiciário.
Março a abril: início das tratativas
• 28/3 – O BRB anuncia acordo para comprar 58% do Banco Master por cerca de R$ 2 bilhões.
• 31/3 – O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, reúne-se com o BRB para tratar da operação.
• 1/4 – Ministério Público do Distrito Federal abre inquérito civil sobre a compra.
• 5/4 – Galípolo realiza reunião extraordinária com os quatro maiores bancos privados para discutir ativos de maior risco do Master e eventual uso do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
• 7/4 – TCU instaura processo para apurar possível omissão do BC em operações do Master com recursos de prefeituras e estados.
• 11/4 – Galípolo conversa com Vorcaro na sede do BC.
• 29/4 – Questionado sobre contágio ao sistema financeiro, Galípolo afirma que “não há risco sistêmico”.
Maio a agosto: ações judiciais e barreiras regulatórias
• 30/4 – Ministério Público aciona a Justiça para suspender a aquisição; pede liminar contra assinatura do contrato.
• 6/5 – Justiça do DF impede o BRB de fechar o negócio.
• 9/5 – BRB reverte a decisão e retoma o processo de compra.
• 13/6 – Documentação final chega ao BC, que inicia análise formal da transação.
• 17/6 – Superintendência do Cade aprova a operação sem restrições.
• 19/7 – Novo encontro entre Galípolo e Vorcaro para discutir a aprovação.
• 13/8 – Tribunal de Justiça do DF suspende a compra até aval da Câmara Legislativa e dos acionistas do BRB.
• 19/8 – Deputados distritais autorizam a operação.
Setembro a outubro: veto do BC e investigação policial
• 2/9 – Partidos do centrão apresentam projeto para permitir ao Congresso demitir diretores do BC.
• 3/9 – Banco Central rejeita a aquisição do Master pelo BRB.
• 30/9 – Folha de S.Paulo revela inquérito da Polícia Federal sobre o Master, aberto a partir de dados enviados pelo BC.
• 7/10 – Vorcaro conversa por vídeo com o diretor de Fiscalização do BC; no mesmo dia, Galípolo recebe o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues.
Novembro: prisão e liquidação
• 17/11 – A gestora Fictor apresenta proposta para comprar o Master com um consórcio dos Emirados Árabes; à noite, a PF prende Vorcaro e o sócio Augusto Lima em São Paulo, no âmbito da operação Compliance Zero, que apura fraude estimada em R$ 12 bilhões.
• 18/11 – Banco Central decreta liquidação extrajudicial do Master; o FGC deverá cobrir R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em depósitos.
• 20/11 – Desembargadora Solange Salgado (TRF-1) nega habeas corpus a Vorcaro.
Fim de novembro a dezembro: foco no STF
• 28/11 – Defesa de Vorcaro pede que o inquérito vá ao STF; sorteio define o ministro Dias Toffoli. No mesmo dia, Toffoli voa a Lima (Peru) em jato particular ao lado do advogado de um diretor do Master. À noite, Solange Salgado manda soltar Vorcaro, que passa a usar tornozeleira.
• 2/12 – Toffoli impõe sigilo elevado ao pedido da defesa.
• 3/12 – Ministro determina que qualquer diligência envolvendo Vorcaro ou o Master seja submetida a ele.
• 4/12 – CPMI do INSS aprova convocação e quebra de sigilo do banqueiro.
• 11/12 – O Globo informa contrato de R$ 3,6 milhões mensais entre o Master e o escritório de familiares do ministro Alexandre de Moraes, que totalizaria R$ 129 milhões até 2027.
• 12/12 – Toffoli retira do Congresso mensagens de celular de Vorcaro apreendidas pela PF.
• 15/12 – Ministro autoriza retomada de depoimentos e dá 30 dias para oitivas; materiais apreendidos seguem em seu gabinete.
• 16/12 – Manifesto de mais de 200 representantes da sociedade civil pede código de conduta para ministros do STF.
Repercussões finais de 2025
• 18/12 – No TCU, o ministro Jhonatan de Jesus afirma que a liquidação pode ter sido “extrema” e exige esclarecimentos do BC em 72 horas.
• 22/12 – Reportagem do jornal O Globo da coluna da colunista Malu Gaspar aponta que Moraes contatou Galípolo quatro vezes sobre o Master, incluindo reunião presencial em julho, a colunista não apresentou provas.• 23/12 – Moraes e Banco Central dizem que o encontro tratou dos impactos da Lei Magnitsky; parlamentares da oposição anunciam possível pedido de impeachment.
A cronologia expõe como o Banco Master passou de alvo de uma operação de venda a foco de investigação criminal e debate institucional, envolvendo instâncias do Executivo, Legislativo e Judiciário.

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