
A expansão de data centers no país deverá exigir um esforço adicional dos operadores do sistema elétrico para manter o equilíbrio de oferta e demanda de energia. Especialistas projetam a necessidade de novas usinas térmicas a gás natural e de investimentos em linhas de transmissão, o que tende a encarecer a conta de luz dos consumidores.
Somente os projetos em análise pela Agência Nacional de Energia Elétrica somam 6 GW de potência instalada e, após 2030, o consumo dessas instalações pode ultrapassar 15 GW. Para efeito de comparação, o complexo anunciado em janeiro no Ceará pela ByteDance, Casa dos Ventos e Omnia deverá consumir, quase ininterruptamente, energia equivalente à de uma cidade com mais de 3 milhões de habitantes.
Em setembro do ano passado, o governo federal editou medida provisória que concede incentivos ao segmento. A indústria afirma que o benefício, que precisa ser convertido em lei até fevereiro, é decisivo para a viabilidade econômica dos empreendimentos.
Durante o dia, a nova carga pode reduzir os cortes de geração solar e eólica realizados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), que em outubro representaram perdas estimadas em R$ 1,1 bilhão para as usinas renováveis. O problema se intensifica no início da noite, quando a produção solar cai a zero e os centros de dados continuam operando 24 horas por dia.
“Hoje, a operação do sistema elétrico vive dois dilemas: excesso de energia à tarde e falta no começo da noite. O data center ajuda num período, mas agrava no outro”, afirma Victor Hugo Iocca, diretor da Abrace, entidade que representa grandes consumidores.
Nessas horas, o despacho recai sobre usinas térmicas, cujo custo no último leilão, em 2021, variou de R$ 544 a R$ 2.000 por MWh, ante valores abaixo de R$ 180 por MWh nos projetos solares e eólicos contratados em 2022. Além disso, limites ambientais restringem a construção de novas hidrelétricas, e o país não dispõe de sistemas de armazenamento em larga escala.
O ONS alerta, em seu plano de operação até 2030, que a combinação de mais energia intermitente com térmicas inflexíveis pode inclusive ampliar os cortes de geração durante as tardes. Apesar disso, empresas continuam anunciando parques eólicos dedicados a data centers, como o de 900 MW que a Casa dos Ventos pretende erguer no Piauí.
O fornecimento contínuo é outro desafio. Segundo Roberto Rossi, presidente da Schneider Electric no Brasil, os processadores “funcionam quando há movimento na internet”, o que impede a redução de carga nos horários críticos.
Uma saída discutida é a adoção de preços dinâmicos de energia, que tornariam o fornecimento mais caro em momentos de escassez e mais barato nos períodos de sobra, incentivando soluções como baterias ou geração própria.
Além do custo da geração, os consumidores bancarão a expansão da transmissão. Como grande parte dos centros de processamento se concentra no Sudeste, serão necessárias novas linhas para conectar regiões com excedente de energia. “O acesso à rede exige a construção de subestações e linhas que acabam socializadas na tarifa de todos”, observa Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel.
No início de janeiro, o governo criou um modelo de leilão anual para pontos de conexão onde não exista infraestrutura suficiente. A medida procura ordenar a fila de projetos, mas não transfere os investimentos diretamente às empresas interessadas.

Faça um comentário