Deepfake ameaça debate público e impulsiona onda de desinformação digital

A popularização de ferramentas de inteligência artificial elevou o nível de sofisticação das montagens audiovisuais conhecidas como deepfakes, potencializando riscos para a veracidade da informação e a reputação de indivíduos. Especialistas em segurança digital apontam que a produção de vídeos, áudios ou fotografias falsos, quase indistinguíveis do real, tornou-se elemento de impacto direto no debate público e na formação de opinião.

O que é o deepfake e por que evoluiu tão rápido

O recurso consiste na aplicação de algoritmos de aprendizado de máquina sobre conteúdos multimídia originais. A técnica não é totalmente nova: softwares de manipulação de voz e imagem existem há anos, mas o avanço da IA generativa acelerou o processo, barateou custos e ampliou o alcance dos materiais adulterados.

Marcelo Lau, coordenador do MBA em Cibersegurança da FIAP, descreve o fenômeno como “produto da inteligência artificial submetido sobre áudio, vídeo ou fotografia para gerar conteúdo enganoso que não existe”. Segundo ele, as mesmas tecnologias de criação servem tanto a fins legítimos — como entretenimento ou efeitos especiais — quanto a ações ilícitas, incluindo fraudes financeiras, chantagens e influência política.

Principais riscos: reputação, privacidade e eleições

Entre as aplicações mais recorrentes está a elaboração de montagens de caráter sexual — chamadas no exterior de deepnude — nas quais rostos de vítimas são inseridos em cenas íntimas. Além de danos morais, essas produções podem provocar extorsão ou exposição não consentida. Outro uso crítico é a disseminação de falas falsas atribuídas a autoridades ou candidatos, capaz de alterar percepções em períodos eleitorais.

Para Lau, a circulação veloz de conteúdos manipulados compromete a checagem jornalística tradicional. “Uma notícia verdadeira precisa de tempo para ser apurada; a falsa se espalha de maneira enorme quando há um vídeo junto”, alerta o professor. Ele afirma que decisões públicas podem ser tomadas com base em material fabricado, criando um “ambiente sem lei” na esfera digital.

Como detectar um deepfake

Não existe ferramenta universal que assegure a detecção de todos os deepfakes. Plataformas acadêmicas e empresas de tecnologia desenvolvem sistemas de verificação, mas a eficácia ainda é limitada, principalmente quando o arquivo original está em baixa resolução ou foi comprimido por aplicativos de mensagem.

Apesar das dificuldades, alguns sinais podem indicar fraude: expressões faciais pouco naturais, som labial fora de sincronia, iluminação inconsistente e reflexos inexistentes nos olhos. Mesmo assim, a recomendação é manter postura cética diante de conteúdos impactantes e recorrer a fontes confiáveis antes de compartilhar.

Enquadramento jurídico e possibilidades de denúncia

O ordenamento brasileiro ainda carece de lei específica para deepfake, mas atos praticados com a técnica podem ser enquadrados em crimes já tipificados, como falsidade ideológica, uso indevido de imagem, calúnia ou difamação. Dependendo da finalidade, também podem ser aplicadas normas do Marco Civil da Internet e da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

No âmbito das redes sociais, empresas como Meta e Google possuem canais de denúncia que permitem solicitar a remoção de material enganoso. Entretanto, a resposta costuma variar conforme a política interna e o volume de solicitações. A coleta de provas — links, capturas de tela e registro de data — é essencial para respaldar eventual processo judicial.

Deepfake ameaça debate público e impulsiona onda de desinformação digital - Imagem do artigo original

Imagem: Edgar Nunley Unsplash

Medidas de prevenção no ambiente digital

Especialistas recomendam práticas básicas para reduzir a exposição a deepfakes:

  • Verificar a origem do vídeo, observando se provém de veículo conhecido ou perfil verificado;
  • Pausar a reprodução para analisar detalhes de rosto, voz e fundo da imagem;
  • Consultar serviços independentes de checagem de fatos em caso de dúvida;
  • Evitar repostar conteúdo emotivo sem confirmação adicional, sobretudo em períodos eleitorais;
  • Configurar alertas de uso indevido de imagem, quando disponíveis, em plataformas de busca.

Lau reforça que “é melhor perguntar para alguém de confiança do que repassar algo suspeito”. Ele destaca que a responsabilidade coletiva no combate à desinformação inclui identificar, denunciar e não amplificar conteúdos falsificados.

Impacto social e necessidade de educação digital

A facilidade de criação de deepfakes expõe brechas na alfabetização midiática da população. Em cenário de hiperconectividade, onde vídeos circulam em segundos por aplicativos de conversa, a capacidade de distinguir fato de montagem torna-se habilidade crítica.

Instituições de ensino, organizações jornalísticas e órgãos governamentais estudam programas de capacitação para conscientizar usuários sobre riscos de manipulação. A proposta envolve ensinar técnicas de verificação básica, divulgar canais de denúncia e explicar consequências legais.

Enquanto o arcabouço regulatório avança, especialistas defendem a combinação de soluções: desenvolvimento de ferramentas de detecção automática, parcerias entre plataformas e autoridades para contenção rápida de material ilícito e campanhas de informação pública para fortalecer a cultura de checagem.

Sem medidas integradas, avaliam os profissionais, o deepfake tende a ampliar a desinformação, fragilizar processos democráticos e intensificar ataques virtuais contra indivíduos e instituições.

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