
O Índice de Gini das metrópoles brasileiras recuou para 0,534 em 2024, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. O dado integra o Boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Observatório das Metrópoles, pelo Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho da PUCRS e pela Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina.
Utilizado internacionalmente como principal medida de desigualdade de renda, o Índice de Gini varia de 0 a 1: quanto mais próximo de zero, menor a concentração de renda. Embora o novo resultado ainda indique forte disparidade, a queda consolida tendência de redução desde 2021.
Segundo o coordenador do estudo, professor André Salata, dois fatores tiveram peso decisivo: reaquecimento do mercado de trabalho e política de valorização do salário mínimo. “Nos últimos anos registramos menor desocupação e aumento real do mínimo, o que impacta sobretudo quem está na base da pirâmide”, afirmou.
O boletim mostra que a renda per capita dos 40% mais pobres das regiões metropolitanas subiu de R$ 474, em 2021, para R$ 670 em 2024 — avanço de 41%. No mesmo período, a proporção de pessoas abaixo da linha de pobreza caiu de 31,1% para 19,4%, o que representa 9,5 milhões de habitantes deixando essa condição.
Apesar do avanço, a desigualdade entre os extremos segue elevada: em 2024, os 10% mais ricos receberam renda 15,5 vezes superior à dos 40% mais pobres. Para Salata, o índice de Gini superior a 0,5 “continua indicando uma situação social indesejável”. Mesmo assim, ele considera que a trajetória recente autoriza “otimismo moderado” diante do recuo da pobreza e da ampliação da renda média.
O estudo abrange 20 regiões metropolitanas — de Manaus a Porto Alegre —, além de Brasília e da Grande Teresina. Juntas, essas áreas concentram pouco mais de 80 milhões de pessoas, cerca de 40% da população nacional. “As metrópoles reúnem alguns dos maiores desafios para a cidadania brasileira e a desigualdade é sentida no cotidiano dos moradores”, observou o pesquisador.
Para os autores, a combinação de maior renda do trabalho, valorização do salário mínimo e controle da inflação explica a melhora recente. Contudo, o boletim ressalta que a manutenção desses fatores será determinante para consolidar a tendência de queda do Índice de Gini e de redução da pobreza nas metrópoles brasileiras.
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