
A combinação de metas acumuladas, confraternizações, compras e prazos faz de dezembro um período crítico para a saúde física e mental, fenômeno popularmente batizado de Dezembrite. A expressão descreve a sobrecarga que atinge muitas pessoas na reta final do ano, quando o estresse deixa de ser pontual e se torna praticamente contínuo.
Em situações normais, o organismo reage a desafios ativando o mecanismo de “luta ou fuga”, que libera adrenalina e cortisol, eleva batimentos cardíacos e pressão arterial e, em cerca de 90 minutos, retorna ao equilíbrio. No fim do ano, porém, esse ciclo é interrompido pelo excesso de tarefas: fechar projetos, organizar viagens, enfrentar trânsito e conciliar demandas familiares impedem o corpo de voltar ao estado basal.
O resultado é uma lista de sintomas que vai de irritabilidade e lapsos de memória a dores musculares persistentes, distúrbios gastrointestinais e maior vulnerabilidade a infecções. Alterações no apetite e dificuldades para dormir também são frequentes. Quando prolongada, a condição compromete rendimento profissional, vida social e sexual, indicando estresse crônico.
O desgaste não surge apenas em dezembro. Nos últimos anos, especialistas observam a chamada “Novembrite”, antecipação do mesmo padrão de sobrecarga provocado pela aceleração do ritmo de vida. “Muita gente chega aos últimos meses já exausta; qualquer demanda extra dispara o quadro”, afirma o cardiologista Carlos Alberto Pastore, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Identificar o problema cedo é essencial. Ansiedade persistente, dificuldade de concentração ou dor física sem causa aparente sinalizam a necessidade de procurar psicólogos ou psiquiatras, que podem indicar técnicas de regulação emocional, psicoterapia e, se preciso, medicação. “Quando os sintomas afetam a rotina, buscar ajuda profissional evita que o estresse evolua para doença”, ressalta Pastore.
Algumas estratégias simples contribuem para atravessar o período com menor impacto:
- Priorizar tarefas realistas e delegar sempre que possível;
- Reservar pausas durante o dia para alongamento, respiração ou breve caminhada;
- Manter horários regulares de sono e evitar excesso de cafeína e álcool;
- Praticar atividade física leve, que auxilia na liberação de endorfinas;
- Estabelecer limites claros para compromissos sociais ou profissionais.
A maioria dos desconfortos associados à Dezembrite tende a diminuir após a virada do calendário, quando prazos se encerram e a rotina desacelera. Mesmo assim, adotar hábitos de manejo do estresse ao longo do ano reduz a chance de sobrecarga voltar nos meses seguintes.

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