Dieta mediterrânea reduz sintomas de depressão, indica estudo

Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) indica que adultos que seguem um padrão alimentar inspirado na dieta mediterrânea relatam menos sinais de depressão e ansiedade. Os resultados foram publicados no periódico Mediterranean Journal of Nutrition and Metabolism.

Para chegar à conclusão, a equipe avaliou 199 frequentadores de um centro de saúde paulistano. Cada participante respondeu a questionários detalhados sobre consumo de alimentos e, em seguida, ao Inventário de Beck, instrumento reconhecido internacionalmente para mensurar sintomas depressivos e ansiosos. “Utilizamos um protocolo validado de 21 perguntas que investigam tristeza, perda de energia, nervosismo e queixas físicas”, relatou a nutricionista Lara Natacci, autora principal do trabalho.

Os dados mostraram que os voluntários com maior aderência ao cardápio mediterrâneo — rico em frutas, hortaliças, grãos integrais, leguminosas e pescados — apresentaram menor propensão aos transtornos avaliados. Entre os que se distanciavam desse padrão, a frequência de indícios de depressão e ansiedade foi mais alta.

Associação, não causalidade

Os autores destacam que a pesquisa estabelece uma correlação, e não evidência direta de causa e efeito. Ainda assim, os achados reforçam hipóteses formuladas em outros estudos sobre o papel de compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, abundantes nos alimentos típicos da região banhada pelo Mediterrâneo. Substâncias como carotenoides, polifenóis, ômega-3 e antocianinas são apontadas como possíveis protetores do tecido cerebral.

“O cérebro é metabolicamente ativo e produz muitos radicais livres; antioxidantes ajudam a neutralizar esse excesso, reduzindo riscos de danos celulares”, observou Natacci. Já os ácidos graxos ômega-3, presentes em peixes de águas frias, contribuem para modular processos inflamatórios que podem impactar o sistema nervoso.

Gorduras saturadas em segundo plano

Na outra ponta, o trabalho ressalta a importância de limitar gorduras saturadas, predominantes em carnes vermelhas e produtos ultraprocessados. Segundo o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital Israelita Albert Einstein, há ampla literatura associando o consumo elevado desses ácidos graxos a prejuízos neurocognitivos. “Reduzir esse tipo de gordura e aumentar a variedade de vegetais formam a base de estratégias modernas de prevenção”, pontuou.

Microbiota e saúde mental

A pesquisa menciona ainda evidências que conectam a microbiota intestinal ao bem-estar emocional. Cardápios abundantes em fibras, grãos integrais, leguminosas e verduras favorecem populações de bactérias benéficas, as quais, por sua vez, parecem influenciar a produção de neurotransmissores ligados ao humor.

Aplicação prática no Brasil

Adaptar o modelo mediterrâneo ao contexto brasileiro não exige ingredientes importados. Sardinha, por exemplo, é fonte acessível de ômega-3. Nozes, castanhas e frutas cítricas oferecem vitaminas e minerais antioxidantes, como selênio, zinco, A, C e E. Leguminosas tradicionais, entre elas feijão carioca e preto, podem substituir lentilha e grão-de-bico sem perda nutricional.

No que diz respeito aos óleos, o azeite de oliva continua sendo referência, mas o óleo de canola também apresenta perfil considerado adequado. Abacate e castanha-do-pará fornecem gorduras monoinsaturadas semelhantes às do azeite. Para laticínios, a recomendação recai sobre versões magras ou fermentadas, que agregam lactobacilos úteis à flora intestinal.

Atenção ao álcool e ao açúcar

Apesar do prestígio do vinho tinto na cultura mediterrânea, a Organização Mundial da Saúde afirma não existir dose alcoólica totalmente segura. O estudo brasileiro reforça esse posicionamento e sugere obter o resveratrol, antioxidante presente na bebida, diretamente de uvas escuras. A redução de açúcares livres e sal também integra as recomendações, alinhando-se a orientações globais de saúde.

Dieta Mind como complemento

O artigo cita a Dieta Mind, proposta por cientistas norte-americanos com foco específico em neuroproteção. Ela se baseia nos mesmos pilares: variedade de vegetais, grãos integrais, gorduras insaturadas e restrição a itens ultraprocessados. Embora metodologias distintas, ambas convergem para um padrão alimentar rico em compostos anti-inflamatórios e pobre em gorduras saturadas.

Com isso, o estudo reforça a perspectiva de que intervenções alimentares simples — como ampliar o consumo de frutas, verduras e peixes — podem contribuir para a manutenção da saúde mental. Novas pesquisas, no entanto, são necessárias para elucidar mecanismos exatos e confirmar a relação de causa e efeito.

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