
Uma equipe da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) concluiu a digitalização tridimensional de 47 objetos da cultura marajoara, pertencentes ao acervo do Museu do Marajó, em Cachoeira do Arari (PA). Entre os itens escaneados estão vasos, urnas funerárias e outros artefatos cerâmicos produzidos antes da chegada dos europeus às Américas.
O trabalho foi realizado pelo Biodesign Lab, coordenado pelo professor Jorge Lopes, referência nacional em digitalização 3D de bens culturais. Segundo ele, os modelos virtuais asseguram a preservação das peças e permitem sua reprodução fiel caso seja necessário. “Os arquivos digitais tornam possível recriar o objeto integralmente e garantem que futuras gerações tenham acesso à cultura marajoara”, afirmou.
Para captar cada detalhe de forma fidedigna, a equipe aplicou uma combinação de técnicas. Nos itens de maior porte, recorreu-se à fotogrametria, método que consiste em registrar centenas de fotografias em vários ângulos e, em seguida, reconstruir o volume por meio de software. Já as peças menores foram escaneadas com dispositivos de luz branca e luz infravermelha, capazes de registrar tanto geometria quanto textura e cor.
Gerson Ribeiro, especialista do laboratório, explicou que a principal dificuldade foi trabalhar dentro do museu sem mover objetos volumosos. “O escaneador capta exatamente o que o olho humano vê; se algo obstrui a visão, a máquina também não registra. Ajustar posição e iluminação em peças que não podiam ser deslocadas foi o maior desafio”, detalhou.
O projeto inclui ainda a reconstrução digital de fragmentos quebrados. Com base nos modelos, partes faltantes foram virtualmente recompletadas, viabilizando a visualização de vasos inteiros em realidade aumentada e realidade virtual. Esses arquivos podem, se desejado, ser impressos em impressoras 3D de alta resolução, abrindo possibilidade para exposições táteis, réplicas didáticas e pesquisas comparativas.
A iniciativa integra o programa Amazonizar, conjunto de ações da PUC-Rio voltadas à preservação ambiental e cultural na Amazônia. Além da digitalização do Museu do Marajó, o programa oferece oficinas de empreendedorismo para artesãs locais e cursos básicos de tecnologia para jovens da ilha, buscando aproximar a universidade da comunidade marajoara.

Localizado no maior arquipélago flúvio-marítimo do planeta, o museu reúne um dos mais importantes conjuntos de cerâmica pré-colombiana do Brasil. Pesquisas indicam que a sociedade marajoara se destacava pela sofisticação técnica e simbólica de seus utensílios, produzidos entre os séculos V e XV. A criação dos modelos digitais reforça a proteção desse patrimônio contra ameaças físicas, como degradação natural ou acidentes.
Jorge Lopes já havia liderado, há duas décadas, a digitalização de parte do acervo do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A experiência acumulada foi fundamental para replicar o processo no Pará, especialmente na reconstrução virtual de peças quebradas.
Com a conclusão da etapa de escaneamento, os arquivos permanecem armazenados em servidores da universidade e também no museu para uso científico, educativo e museográfico. A próxima fase prevê disponibilizar parte do material em plataformas on-line, permitindo que pesquisadores e visitantes do mundo inteiro examinem a cultura marajoara em alta definição.

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