
O número de adolescentes e jovens atendidos por dor nas costas no Sistema Único de Saúde (SUS) vem subindo de forma consistente nos últimos anos, segundo registros da própria rede pública. O problema, antes associado quase exclusivamente à população adulta, passou a fazer parte da rotina de pacientes ainda na infância ou no início da vida adulta, cenário que acende alerta entre médicos e gestores de saúde.
Para compreender as causas desse avanço, a reportagem ouviu o ortopedista e cirurgião de coluna André Evaristo Marcondes, do Hospital Sírio-Libanês. O especialista identifica dois perfis principais de risco: jovens sedentários, que permanecem longos períodos sentados e apresentam sobrepeso, e praticantes de atividades físicas intensas, como musculação e crossfit, mas sem orientação adequada. “Embora opostos, ambos favorecem lesões musculares e do disco intervertebral”, afirma.
Sedentarismo, telas e sobrecarga física
Entre os fatores ligados ao estilo de vida moderno, Marcondes destaca o tempo prolongado em frente a telas. A inclinação do pescoço para visualizar o celular aumenta significativamente a carga sobre os discos cervicais; já a postura de hiperflexão lombar, comum quando se permanece sentado por horas, pode dobrar a pressão sobre o disco lombar. A falta de atividade física regular agrava o quadro ao enfraquecer a musculatura estabilizadora da coluna.
Além da postura, noites maldormidas, excesso de peso e alimentação inadequada completam a lista de fatores que deixam crianças e adolescentes mais sujeitos à dor lombar e cervical. Nos consultórios, é cada vez mais comum encontrar pacientes nessa faixa etária relatando formigamento, irradiação de dor para as pernas e limitação para atividades simples do dia a dia.
Sinais de alerta e necessidade de avaliação
O médico recomenda atenção especial quando a dor persiste por mais de quatro a seis semanas, é intensa a ponto de limitar movimentos ou vem acompanhada de formigamento, perda de força, alterações urinárias ou intestinais, febre ou perda de peso sem causa aparente. Nesses casos, a avaliação de um especialista deve ser imediata, pois quadros como hérnia de disco grave, infecções, espondilite anquilosante ou tumores, embora menos frequentes, não podem ser descartados.
Prevenção começa na rotina
A principal estratégia para reduzir o avanço da dor nas costas entre os mais jovens envolve a adoção de hábitos simples: praticar atividade física regular que combine exercícios aeróbicos e fortalecimento muscular, manter a coluna ereta ao sentar, ajustar a altura da tela para o nível dos olhos e evitar permanência na mesma posição por períodos prolongados. “Uma musculatura forte distribui melhor a carga e diminui o risco de lesões”, reforça Marcondes.
Ele acrescenta que escolas, universidades e empresas podem colaborar com campanhas educativas sobre ergonomia, postura e prática esportiva supervisionada. “Informação acessível é parte essencial da prevenção, mas precisa chegar aos jovens de forma clara”, conclui.

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