
A Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, será ocupada por cerca de 400 praticantes de jongo entre esta quinta-feira (14) e sábado (16) durante o Encontro de Jongueiros. O evento integra a Semana do Patrimônio Histórico Nacional e comemora os 20 anos do reconhecimento do jongo como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Vindos de 18 comunidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, os jongueiros transformarão a praça em um quilombo simbólico com rodas de jongo, apresentações de samba, exposição fotográfica ao ar livre e oficinas conduzidas por mestres da tradição. Paralelamente, o Teatro Carlos Gomes sediará seminários que debaterão resultados e perspectivas do plano de salvaguarda criado após o tombamento do gênero.
Coordenador do encontro, o pesquisador e músico Marcos André Carvalho explica que a proposta é avaliar duas décadas de ações voltadas à preservação desse patrimônio. “Vai ser a grande comemoração dos 20 anos do tombamento do jongo; a Praça Tiradentes vai virar quilombo”, disse. A programação prevê ainda um cortejo, fogueira e iluminação especial das árvores da praça.
O jongo, também chamado de congo ou caxambu conforme a localidade, reúne canto em pontos, dança de roda e percussão de tambores de origem bantu. A manifestação chegou à Região Sudeste com pessoas escravizadas do Congo, Angola e Moçambique, que trabalhavam em lavouras de café e cana-de-açúcar em estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Após a abolição, parte dos libertos levou a prática para favelas da capital fluminense, enquanto outra parte permaneceu no Vale do Café, onde cinco comunidades centenárias mantêm o jongo em sua forma mais tradicional.
As discussões no Teatro Carlos Gomes começam nesta quinta às 10h com o painel “Pesquisas, inventários e registros sobre o jongo e o Vale do Café”. Participam a pesquisadora e integrante da Velha Guarda do Império Serrano Raquel Valença, acadêmicos da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de representantes do Ministério Público Federal e do Instituto Cachuera.
No mesmo dia ocorrem dois debates: às 11h30, “Mestras e Mestres – Avaliação dos 20 anos de registro do jongo e perspectivas futuras” reúne guardiões de grupos de Piraí, Pinheiral, Valença, Quissamã, Magé e outras localidades; às 14h30, a mesa “Contribuição bantu para a formação da cultura do Rio e do Vale do Café” recebe a professora Helena Theodoro, o babalawo Ivanir dos Santos, o escritor Luiz Rufino e Marcos André.
A tarde de quinta inclui o lançamento virtual do Museu do Jongo, portal que disponibilizará gratuitamente cerca de 5 mil fotos, áudios e vídeos coletados ao longo de 30 anos. O material reúne acervos familiares antes dispersos e deteriorados. Segundo Carvalho, o museu funcionará futuramente em um parque temático na Fazenda São José dos Pinheiros, em Pinheiral, projeto já aprovado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O espaço deverá abrigar também a Escola do Jongo, restaurante de culinária étnica e centro de visitação, com inauguração prevista para 2027.

Imagem: Karen Eppinghaus via agenciabrasil.ebc.com.br
Uma das principais lideranças do jongo de Pinheiral, Mestra Fatinha, ressalta a transmissão intergeracional da prática. “O jongo nunca parou. Há 40 anos trabalhamos pela preservação da dança e da autoestima do nosso povo preto, principalmente das crianças”, afirmou.
Na sexta-feira (15), o Encontro de Jongueiros promove quatro oficinas entre 10h e 18h, divididas entre o Museu da República, no Catete, e a sede do Iphan, no centro. Serão abordadas a confecção do tambor (tambú), diferenças regionais entre jongo e caxambu, cantos e pontos, além dos toques específicos executados em tambú e candongueiro.
A programação de sábado (16) reabre o seminário no Teatro Carlos Gomes às 10h30 com a mesa “Políticas de Salvaguarda para o Jongo – Poder Público e parceiros”. Ao meio-dia haverá homenagem a mestras e mestres de jongo e caxambu, seguida, às 12h30, da estreia do curta-metragem “Mestres do Patrimônio Imaterial do Estado do Rio”, também dirigido por Carvalho. A produção reúne depoimentos de líderes de diferentes expressões afro-brasileiras, como ciranda, candomblé, afoxé e umbanda.
Após a exibição, um cortejo sairá do teatro em direção à Praça Tiradentes, onde será inaugurada a exposição fotográfica “Jongo do Vale do Café”. A partir das 15h, diversas rodas de jongo ganham o espaço, acompanhadas de apresentação do grupo Samba de Caboclo e convidados. O encerramento está previsto para 22h.
De acordo com a organização, esta é a primeira vez que 400 representantes de 18 quilombos ocupam uma praça no centro histórico do Rio, marco que reforça a visibilidade do Encontro de Jongueiros e do jongo como patrimônio vivo da cultura afro-brasileira.

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