
O quinto capítulo da série “Ângela Diniz” apresenta o ponto mais dramático da produção ao reconstruir os acontecimentos que antecederam o assassinato da socialite, em 1976, na Praia dos Ossos, litoral de Búzios (RJ). Ao longo de cerca de uma hora, o roteiro expõe a escalada de ciúmes, violência psicológica e dependência financeira que marcou a relação entre Ângela e Raul Fernando do Amaral Street, conhecido como Doca Street.
A narrativa se abre com cenas do primeiro julgamento de Doca, realizado em 1979. No tribunal, o advogado de defesa (interpretado por Antônio Fagundes) sustenta a tese de “legítima defesa da honra”, argumento recorrente na época, culpando a própria vítima: “Ângela o provocou e levou um homem correto a cometer um erro”, diz o personagem em plenário. O recurso dramático coloca o espectador diante do contexto social que, na ocasião, relativizou a violência de gênero.
Depois do flashback do tribunal, a trama retorna ao período anterior ao crime. Doca, arrependido de discussões anteriores, convida Ângela para alguns dias de descanso na casa recém-alugada na Praia dos Ossos. À primeira vista, o casal parece reviver a fase de cumplicidade, mas fissuras surgem logo nas conversas iniciais. Ângela quer levar a filha para junto deles; Doca recusa, argumentando que o momento não seria apropriado.
A tensão se intensifica quando o namorado passa a escolher praias isoladas, evita lugares movimentados e decide quanto tempo Ângela pode circular fora da residência. O controle atinge o ápice em cenas em que ela é trancada dentro da casa sem explicação. Entre um passeio e outro, Doca demonstra desconforto diante de amigos de Ângela, isola-se e volta para casa irritado. As discussões ganham tom agressivo, com acusações infundadas e demonstrações de ciúmes.
A situação degringola durante uma festa na praia. Ângela bebe, Doca consome drogas e, quando se encontram, iniciam nova briga. Ele agride a parceira e deixa o local. Na manhã seguinte, revela dependência financeira ao pedir que Ângela assine um cheque de valor elevado para pagar o aluguel do imóvel exibido como se fosse dele.
As últimas sequências mostram o rompimento definitivo. Após novo embate, Ângela afirma que não o ama mais e exige que ele saia. Doca reage cuspindo em seu rosto e, já fora de casa, lança a ameaça: “Você vai morrer velha, bêbada e sozinha na sarjeta”. O público tem um breve alívio quando ele se afasta, mas o retorno armado ocorre segundos depois. Sem exibir as imagens do crime, a produção transmite apenas o grito de Ângela e os disparos, encerrando o episódio com a tela preta.
Ao destacar que a violência começou muito antes dos tiros — no controle cotidiano, na manipulação emocional e na dependência financeira — o episódio sublinha a gradualidade do abuso que culminou na morte. A conclusão aponta para o próximo capítulo, que deve concentrar-se no julgamento que transformou o caso Ângela Diniz em marco do debate sobre feminicídio no Brasil.

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