Estrangeiros são 4% dos empregos com carteira; venezuelanos lideram

Homem segurando a carteira de trabalho e previdência social do Brasil, símbolo do mercado de trabalho para estrangeiros no país, com destaque para a presença de venezuelanos liderando esse grupo.

O avanço da imigração latino-americana e o recuo histórico da taxa de desemprego fizeram os estrangeiros no mercado de trabalho alcançarem 4% das contratações formais no Brasil entre janeiro e outubro de 2025. Nesse período, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou saldo positivo de 73,4 mil postos para trabalhadores de outras nacionalidades, dentro de um total de 1,8 milhão de novas vagas com carteira.

A presença estrangeira supera o resultado de 2024, quando foram 71,1 mil admissões líquidas, e representa alta de 196,2% sobre 2020, primeiro ano da série atual do Caged. Quase metade desses profissionais vem da Venezuela: 47,8% do total contratado neste ano. Haitianos respondem por 8,2%, argentinos por 4,8% e paraguaios por 4,3%.

Ao longo dos últimos cinco anos, a fatia dos imigrantes nas estatísticas formais subiu de 0,19% em 2021 para os atuais 4%. Para o economista Bruno Imaizumi, da consultoria 4intelligence, o movimento reflete a combinação entre oferta de mão de obra vinda do exterior e demanda interna aquecida. “O mercado está suficientemente aquecido para absorver trabalhadores estrangeiros”, diz.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirma a melhora do ambiente de contratação. A taxa de desocupação caiu de 12,1% em 2021 para 5,4% no trimestre encerrado em outubro de 2025, o menor nível desde o início da série em 2012. A rotação de funcionários também alcançou patamar recorde: 36,1% dos vínculos formais foram encerrados e reabertos nos 12 meses até outubro, ante menos de 25% no pré-pandemia.

A maior parte dos estrangeiros é absorvida em funções com déficit de mão de obra local. O cargo de alimentador de linha de produção lidera as admissões, com saldo de 13,8 mil vagas até outubro. Vêm em seguida faxineiros (5,3 mil), açougueiros (4,7 mil) e serventes de obras (4,1 mil). Pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) mostra que 20,5% das fábricas paulistas que buscaram contratar entre o início de 2024 e março de 2025 não encontraram candidatos.

Na avaliação do professor sênior da Faculdade de Economia da USP, Hélio Zylberstajn, a dificuldade para preencher posições menos qualificadas ajuda a explicar a procura por estrangeiros. “Há escassez de mão de obra brasileira para essas funções, e o Brasil se tornou polo de atração na América Latina”, afirma.

O Censo 2022 do IBGE apontou salto de 2.900 para 271,5 mil venezuelanos residentes no país em 12 anos, impulsionado pela crise socioeconômica sob o governo Nicolás Maduro. Muitos se fixam no Sul. Entre janeiro e outubro, 25,9 mil venezuelanos obtiveram emprego formal na região, com destaque para Santa Catarina (10,8 mil), Paraná (9,3 mil) e Rio Grande do Sul (5,6 mil).

Histórias individuais reforçam a tendência. A analista de atendimento Maria Hernandez, 32 anos, trocou a Venezuela pelo Brasil em 2019 e hoje atua como analista de treinamento em uma multinacional de contact center. Graduada em engenharia elétrica, ela lembra que começou limpando casas após chegar ao país. Já Julio César, 27, trabalha como arrumadeiro em um hotel de São Paulo após passagens por frigoríficos e empresas de transporte no Paraná e no Rio Grande do Sul.

Cenários humanitários também influenciam. O número de haitianos que vieram ao Brasil saltou de 54 em 2010 para 57.453 em 2022, segundo o IBGE, fenômeno associado ao terremoto de 2010. Com o mercado interno aquecido e vagas em aberto, a tendência é que estrangeiros continuem suprindo lacunas de mão de obra em setores específicos nos próximos anos.

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