
Uma revisão sistemática apresentada neste sábado (30) no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2025, em Madri, sugere que a vacina contra herpes-zóster pode colaborar para a prevenção de doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto. A análise, conduzida pelo médico Charles Williams, diretor associado global da biofarmacêutica GSK, reuniu 19 estudos publicados em diferentes países.
De acordo com o levantamento, adultos de 18 a 50 anos que receberam a imunização apresentaram redução de 18% no risco de eventos cardiovasculares. Entre pessoas com mais de 50 anos, a queda foi de 16%. Nos estudos incluídos, a diminuição absoluta variou entre 1,2 e 2,2 casos a menos de problemas cardíacos para cada mil indivíduos vacinados por ano.
Os 19 trabalhos analisados contemplam populações com média de idade entre 53,6 e 74 anos; em nove deles, os homens representaram 53,3% dos participantes. A vacina foi avaliada como fator independente, mas os autores destacam a necessidade de mais pesquisas capazes de isolar variáveis como hipertensão, diabetes e obesidade, que também influenciam o surgimento de doença cardiovascular.
“Precisamos confirmar se o efeito observado permanece depois de controlar todos os fatores de confusão”, afirmou Williams durante a apresentação dos dados. Opinião semelhante foi manifestada pelo vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, à Agência Brasil. Segundo o infectologista, “evidências vêm se acumulando, mas ainda é importante depurar a influência de outras condições clínicas”.
O interesse por vacinas como estratégia complementar de prevenção cresce na cardiologia. A própria Sociedade Europeia de Cardiologia passou a listar a imunização como quarto pilar na redução de risco, ao lado de fármacos anti-hipertensivos, redutores de colesterol e medicamentos para controle de diabetes.
No Brasil, a vacina contra herpes-zóster está disponível apenas na rede privada. Cada dose custa, em média, de R$ 850 a R$ 1 000, e o esquema completo exige duas aplicações com intervalo mínimo de dois meses. O Ministério da Saúde solicitou, em abril, análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) sobre custo-efetividade do imunizante, mas ainda não há parecer.
O herpes-zóster é causado pelo vírus Varicela-Zóster, que permanece latente após a catapora e pode reativar em adultos, especialmente idosos ou pessoas com sistema imunológico comprometido. A reativação está associada a inflamação dos vasos sanguíneos, mecanismo que pode contribuir para AVC e outros eventos cardiovasculares.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, doenças cardiovasculares respondem por 31% das mortes globais, totalizando 17,9 milhões de óbitos em 2016, 85% deles por infarto ou AVC. A possível proteção adicional oferecida pela vacina de zóster, portanto, desperta atenção de autoridades sanitárias e pesquisadores.
Embora os resultados sejam promissores, especialistas reforçam que manter controle de pressão arterial, colesterol, glicemia e adoção de hábitos saudáveis continua sendo a recomendação central para evitar problemas cardíacos.
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