
A Fundação Maria Luisa e Oscar Americano abre neste sábado (15) a mostra “Cosme e Damião: diversidade e coexistência”, dedicada a apresentar diferentes leituras do sincretismo religioso associado aos gêmeos médicos venerados no catolicismo e em religiões de matriz africana. A exibição reúne cerca de cem peças dos séculos XVIII e XIX provenientes da Europa, Ásia e do Nordeste brasileiro, além de esculturas africanas e de um ícone ortodoxo da Coleção Ivani e Jorge Yunes.
O núcleo principal do evento pertence ao acervo da pesquisadora Ludmilla Pomerantzeff, referência no estudo da religiosidade no país. Entre as obras escolhidas, o público encontrará imagens de arte sacra erudita e popular que evidenciam a confluência de tradições e a formação mestiça da cultura brasileira.
Segundo o curador Rafael Schunk, a exposição procura mostrar como, ao longo do tempo, comunidades negras e indígenas fundiram “doutrinas e crenças heterogêneas” para preservar suas práticas em um contexto colonial que restringia a liberdade de culto. “Por meio das associações entre as culturas africanas e católica, São Cosme e São Damião foram sincretizados aos gêmeos Ibejis da tradição iorubá”, explica.
Além dos santos e dos Ibejis, a montagem apresenta representações de Doum, terceira criança que completa o conjunto na umbanda e simboliza o espírito infantil até os sete anos. A presença desse personagem reforça a prática de distribuir doces e brinquedos nas festas de 27 de setembro, costume difundido principalmente nos terreiros.
A mostra também contextualiza a trajetória histórica dos irmãos, cujo culto chegou ao Brasil em 1530 com o capitão-donatário Duarte Coelho Pereira. Formados em medicina na Síria, Cosme e Damião se tornaram conhecidos por atender gratuitamente, razão pela qual receberam o título grego de anárgiros, “avessos ao dinheiro”. No Nordeste colonial, passaram a ser invocados contra contágios e epidemias e tornaram-se padroeiros de farmacêuticos e cirurgiões.
Schunk observa que a seleção de peças nordestinas — oriundas de Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas e Sergipe — favorece um diálogo entre o catolicismo popular e as africanidades. “Queremos evidenciar essa ponte entre o culto festivo europeu e as raízes afro-brasileiras que reinterpretaram os santos”, afirma o curador.
A exposição pode ser visitada de terça a domingo, das 10h às 17h30, na avenida Morumbi, 4.077. A entrada é gratuita às terças-feiras; nos demais dias, os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia para estudantes e pessoas acima de 60 anos).

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