Felca: quem é o influenciador de 26 anos que expôs a adultização infantil nas redes sociais

Um documentário de 50 minutos publicado em 6 de agosto no YouTube levou o criador de conteúdo Felipe Bressanim Pereira, 26 anos, conhecido como Felca, ao centro do debate sobre adultização infantil e proteção de crianças na internet. A produção, lançada sem anúncios nem monetização, ultrapassou 30 milhões de visualizações em cinco dias e motivou ao menos 17 projetos de lei na Câmara dos Deputados, além de um pedido de CPI no Senado.

De Londrina para o topo das redes

Nascido em Londrina, Paraná, Felca já acumulava milhões de seguidores antes da denúncia. Seu conteúdo mescla humor ácido e críticas sociais, características presentes desde que começou no YouTube, em 2012, transmitindo partidas de videogame. A popularidade cresceu com vídeos virais, como o teste de uma base de maquiagem em 2023, que somou mais de 20 milhões de visualizações e o levou a programas de TV e podcasts de grande audiência.

A guinada na última semana, porém, foi inédita. No Instagram, o influenciador saltou para 15,5 milhões de seguidores, superando perfis de figuras públicas como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre YouTube e TikTok, ele reúne mais de 11 milhões de inscritos.

Conteúdo e impacto do documentário

No filme divulgado gratuitamente, Felca reúne imagens, dados, relatos e trechos de lives para demonstrar como crianças e adolescentes vêm sendo expostos a conteúdos sexualizados em plataformas digitais. O material sustenta que a exposição precoce causa danos psicológicos e representa risco à integridade de menores. O influenciador optou por não vincular anúncios ao vídeo para evitar qualquer questionamento sobre lucro.

A repercussão foi imediata. Deputados de diferentes campos ideológicos apresentaram, até 12 de agosto, 17 propostas legislativas voltadas à segurança de menores na internet. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que priorizará a votação de parte dos textos.

No Senado, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o senador Jaime Bagatolli (PL-RO) protocolaram pedido de Comissão Parlamentar de Inquérito dedicada à investigação da exposição abusiva de crianças. A solicitação já contava com apoio de 60 dos 81 senadores até a mesma data.

Atuação contra jogos de azar

Antes do debate sobre adultização infantil, Felca ganhou projeção ao criticar a divulgação de bets e jogos de azar por influenciadores. Em maio, publicou vídeo condenando a promoção do “Jogo do Tigrinho” e de casas de apostas on-line. Na rede X, reagiu a depoimentos da CPI das Bets afirmando que os parlamentares tratavam assunto de saúde pública “como uma brincadeira entre amigos”.

Ele classificou a ludomania, vício reconhecido pela Organização Mundial da Saúde, como problema que leva ao isolamento social e a conflitos familiares, alertando que adolescentes são os mais vulneráveis. Em outra frente, revelou ter recusado proposta de R$ 50 milhões para divulgar apostas durante três meses.

O posicionamento lhe rendeu o título de Parceiro Nacional da Saúde Mental, concedido pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Desde então, tornou-se uma das principais vozes contra a publicidade de jogos de azar dirigida ao público jovem.

Perfil e trajetória

Felca mede 1,97 m e conta que sonhou em ser atleta na juventude, considerando natação, basquete e futebol. Após concluir o ensino médio, decidiu não ingressar na universidade e se dedicou integralmente à criação de conteúdo. Segundo ele, a rotina on-line intensa exige pausas regulares. “Tem vezes que eu faço um detox da internet”, relatou em entrevistas.

Felca: quem é o influenciador de 26 anos que expôs a adultização infantil nas redes sociais - Imagem do artigo original

Imagem: Reprodução

Em 2023, viralizou no TikTok com lives NPC, formato no qual o apresentador repete palavras e gestos mecanicamente. O experimento, que lhe rendeu cerca de R$ 5 mil por transmissão em quatro dias, serviu para criticar o funcionamento da plataforma. “A rede derrete o cérebro”, comentou à época.

Quanto à vida pessoal, o influenciador descreve sua visão sobre relacionamentos como conservadora. “Fiz um voto de que vou namorar para casar”, afirmou em novembro de 2024, acrescentando que teve duas namoradas e busca “alguém especial para amar para sempre”.

Repercussão política e próximos passos

Embora não declare filiação partidária nem intenção de disputar cargos, Felca tornou-se referência para parlamentares que buscam respaldo popular em pautas de proteção ao público infanto-juvenil. Deputados ideologicamente opostos, como Nikolas Ferreira (PL-MG) e Erika Hilton (PSOL-SP), elogiaram o documentário em sessões plenárias e nas redes sociais.

Caso a CPI sobre exposição de menores avance, o youtuber poderá ser convidado a detalhar o processo de produção do filme e os dados coletados. Enquanto isso, segue publicando atualizações em seus perfis, onde reforça que o objetivo é “proteger crianças, não ganhar seguidores”.

Autoridades do Judiciário acompanham as discussões. Processos em curso sobre exploração infantil nas redes sociais foram citados por integrantes do Ministério Público Federal como diretamente influenciados pela repercussão do vídeo.

Influência no debate sobre internet segura

Especialistas veem na mobilização gerada por Felca um exemplo de como criadores de conteúdo podem pautar políticas públicas. Para o sociólogo Douglas Lima, professor da Universidade de Brasília, a velocidade da resposta parlamentar “demonstra que temas relacionados à infância e ao digital ganham prioridade quando repercutem em larga escala”.

Felca, por sua vez, declarou que continuará a produzir vídeos investigativos, mas sem abandonar o humor. “Se eu puder usar minha audiência para algo que ajude pessoas, vou fazer”, disse em live após a divulgação do documentário.

Com o avanço dos projetos de lei e a possível instalação da CPI, o tema seguirá em evidência no Congresso nos próximos meses. O influenciador, que iniciou carreira transmitindo jogos on-line, tornou-se agora peça central no debate nacional sobre segurança infantil na internet.

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