
Os registros de furto de combustível em dutos operados pela Transpetro voltaram a subir em 2025, interrompendo a tendência de queda observada desde 2019. Dados da subsidiária da Petrobras indicam 17 ocorrências entre janeiro e junho, média mensal de 2,83 casos. Em todo o ano de 2024 foram 25 furtos, média de 2,08 por mês, o que representa aumento de 36% na comparação.
Conhecida tecnicamente como derivação clandestina, a prática consiste em perfurações nos oleodutos para desviar produtos líquidos, como gasolina e diesel. As estruturas subterrâneas cortam áreas remotas e urbanas, formando uma malha de 8,5 mil quilômetros que interliga unidades de produção, terminais e refinarias em todo o país.
Além do prejuízo financeiro, o crime pode provocar desabastecimento regional, danos ambientais e riscos à segurança de trabalhadores e comunidades vizinhas. “Basta uma única derivação clandestina para causar impacto sério ao meio ambiente ou às pessoas”, alertou o gerente executivo de Proteção de Dutos da Transpetro, Júlio Barreto.
Histórico de ocorrências
O pico de furtos foi registrado em 2018, com 261 casos. Nos dois anos seguintes os números permaneceram próximos de 200, caindo para 102 em 2021. A trajetória descendente prosseguiu: 58 registros em 2022, 28 em 2023 e 25 em 2024. Apesar da forte redução acumulada, o aumento verificado em 2025 reacende a preocupação da companhia e das autoridades de segurança.
A Transpetro não divulga o valor econômico das perdas, mas destaca que o transporte por dutos responde por 99,5% menos emissões de gases de efeito estufa quando comparado ao modal rodoviário. Um único dia de operação equivale a retirar mais de 20 mil caminhões-tanque das estradas, indicador utilizado pela empresa para reforçar a importância de preservar a integridade do sistema.
Estrutura de proteção
Para mitigar os furtos, a Transpetro afirma investir cerca de R$ 100 milhões por ano em segurança. Parte desse montante sustenta o Centro de Controle de Proteção de Dutos, que monitora a faixa operacional 24 horas por dia. Barreto atribui a queda acentuada entre 2019 e 2021 à implantação desse centro, responsável por acionar equipes de emergência sempre que suspeitas são detectadas.
A estratégia de defesa combina tecnologias de detecção remota de vazamentos, drones, ferramentas de inteligência artificial e inspeções periódicas em campo. Há ainda parcerias com Ministérios Públicos, polícias civis e militares, bem como programas de conscientização junto a comunidades vizinhas às tubulações. Segundo o executivo, a população é orientada a comunicar qualquer movimentação atípica na região dos dutos.
Perfil das quadrilhas
Investigações recentes mostram que as quadrilhas recorrentes nesse tipo de crime contam com mão de obra especializada, capaz de perfurar tubos de aço, instalar derivações e transferir combustível para caminhões-tanque avaliados em até R$ 300 mil. Para evitar flagrantes, os criminosos preferem áreas afastadas de grandes centros, agem principalmente à noite e retiram quantidades reduzidas, dificultando a detecção imediata.

Imagem: Transpetro
Em fevereiro de 2025, operação das forças de segurança no Rio de Janeiro apontou o contraventor Vinícius Dumond como líder de uma organização dedicada a furtos de combustíveis. Em alguns casos, as quadrilhas chegam a alugar imóveis próximos ao traçado dos dutos e cavam túneis até a tubulação, prática considerada de alta complexidade técnica.
Projetos de lei em debate
A Transpetro defende o endurecimento das penas para esse tipo de crime. Quatro projetos tramitam no Congresso Nacional: o PL 8.455/2017 e o PL 1.482/2019 tipificam a derivação clandestina; o PL 131/2021 classifica a conduta como crime hediondo; e o PL 828/2022 aumenta as penas previstas no Código Penal. “O PL 8.455 busca diferenciar essa prática do furto comum, conferindo punição mais adequada”, destacou Barreto em entrevista.
Canal de denúncias e ações comunitárias
Para reforçar a prevenção, a estatal mantém o Disque 168, serviço telefônico gratuito e anônimo disponível 24 horas. O número remete ao dia 16 de agosto, quando a companhia promove atividades de conscientização em municípios de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.
Nessas ações serão oferecidos serviços públicos, como emissão de documentos, vacinação, aferição de pressão e glicose, além de apresentações culturais. O objetivo, segundo a empresa, é aproximar-se das comunidades, reduzir vulnerabilidades e incentivar denúncias que auxiliem no combate ao furto de combustível.
Enquanto aguarda a evolução da legislação, a Transpetro afirma que continuará a investir em tecnologia, infraestrutura de monitoramento e cooperação com órgãos de segurança para evitar que o aumento registrado em 2025 volte a atingir níveis similares aos do final da última década.

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