
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (7) que o volume de recursos direcionado à indústria bélica supera o financiamento para a ação climática e empurra o planeta para um “apocalipse climático”. A declaração ocorreu na segunda sessão temática da Cúpula do Clima, realizada em Belém, encontro preparatório para a COP30 de 2025.
Lula destacou que a guerra na Ucrânia, iniciada pela invasão russa há quase quatro anos, cancelou avanços recentes na redução de emissões e estimulou a reativação de usinas a carvão. “Gastar com armas o dobro do que destinamos ao clima é pavimentar o caminho para o apocalipse climático. Não haverá segurança energética em um mundo conflagrado”, afirmou o presidente.
Participam do evento o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, entre outros chefes de Estado. A reunião busca reforçar compromissos multilaterais antes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, marcada para novembro de 2025 na capital paraense.
Lula observou que, embora se verifiquem avanços na diversificação da matriz energética, populações de países pobres continuam sem acesso pleno à energia. Ele citou que 2 bilhões de pessoas ainda cozinham com combustíveis inadequados, 660 milhões dependem de lamparinas ou geradores a diesel e 200 milhões de crianças frequentam escolas sem eletricidade. “Sem energia não há conexão digital, hospitais funcionando ou agricultura moderna”, disse.
O presidente criticou ainda o sistema financeiro internacional. Segundo ele, os 65 maiores bancos do mundo aprovaram em 2024 aproximadamente US$ 869 bilhões em crédito para petróleo e gás, enquanto a participação dos combustíveis fósseis na matriz global recuou apenas de 83% para 80% desde o Acordo de Paris.
Como resposta, Lula anunciou a criação de um fundo nacional para direcionar parte dos lucros obtidos com petróleo e gás à expansão de fontes renováveis. O mecanismo pretende apoiar projetos de mitigação das emissões e promover justiça climática nos países do Sul Global. De acordo com o chefe do Executivo, também há espaço para trocas de dívida externa por investimentos em transição energética.
O presidente encerrou conclamando os negociadores da próxima COP a implementar o acordo firmado em Dubai, que prevê triplicar a geração de energia renovável e dobrar a eficiência energética até 2030, além de eliminar a pobreza energética. “Os cientistas já cumpriram seu papel; cabe a nós decidir se o século 21 será lembrado pela catástrofe ou pela reconstrução inteligente”, concluiu.

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