Gilberto Gil homenageia Preta em retorno aos palcos em São Paulo

Gilberto Gil voltou aos palcos na noite de domingo, 17 de agosto de 2025, menos de um mês após a morte da filha Preta Gil. O artista de 83 anos apresentou-se por cerca de uma hora na Sessão Inaugural do SP2B – São Paulo Beyond Business, no Auditório do Ibirapuera, diante de um público convidado que ocupou quase a totalidade dos 800 lugares do espaço.

O evento marcou o anúncio de um festival de criatividade e tecnologia previsto para agosto de 2026 no Parque Ibirapuera. Além do show de Gil, a programação incluiu palestra do historiador israelense Yuval Noah Harari, seguida de diálogo mediado pelo jornalista Pedro Bial.

Antes de surgir no palco, o músico permaneceu oculto por uma grade iluminada enquanto executava os primeiros acordes de Punk da Periferia. Quando a luz revelou sua figura, foi recebido com aplausos prolongados. “Boa noite, muito obrigado pela presença de todos”, saudou, e emendou um aceno a Harari, a quem classificou como “um dos pensadores mais interessantes da contemporaneidade”.

Sentado, munido de violão, Gil era acompanhado pelos filhos José Gil, na bateria, e Bem Gil, na guitarra – ambos do casamento com Flora Gil. Eles conduziram um repertório que mesclou sucessos próprios e canções consagradas por outros intérpretes, sempre sob clima intimista.

Repertório alinhado à história pessoal e à cidade

Logo após a abertura, vieram Palco, Chiclete com Banana e Ladeira da Preguiça, lembrada pelo cantor como “eterna na voz de Elis”. Na sequência, dedicou Aquele Abraço ao Rio de Janeiro, cidade que o acolheu nos primeiros anos de carreira. Os clássicos Andar com Fé e Tempo Rei mantiveram o público engajado, alternando coro coletivo e momentos de silêncio respeitoso.

O ponto mais emotivo chegou quando se ouviram os acordes de Drão, composta em 1982 para Sandra Gadelha, mãe de Preta Gil. Gil dirigiu-se à plateia em tom sereno: “Nas vezes em que tenho tocado essa música ultimamente, tenho cantado para ela. Nesses últimos anos, sempre para ela, nossa querida Preta”. Após a execução, espectadores levantaram-se para aplaudir. De olhos fechados, o artista permaneceu imóvel por alguns segundos antes de abrir os braços em sinal de gratidão.

A homenagem continuou com Estrela, lançada em 1997. Antes de tocá-la, explicou que, entre os netos, costuma dizer que “quando alguém da família se vai, vira uma estrela”. A explicação precedeu outro momento de forte comoção, seguido pelas faixas Esotérico e Não Chore Mais, versão em português de No Woman, No Cry.

Show celebra São Paulo e marca retomada da turnê

De acordo com a organização do SP2B, o roteiro foi pensado para reverenciar a capital paulista. Assim, o repertório incluiu Vamos Fugir, popularizada na década de 1990 pela banda Skank, além de Esperando na Janela e Maracatu Atômico. A apresentação encerrou-se com Toda Menina Baiana, sob aplausos insistentes.

O retorno aos palcos ocorreu após ajustes na agenda. Inicialmente, Gilberto Gil faria show da turnê Tempo Rei em Belém no dia 9 de agosto, mas a data foi transferida em razão do luto. A digressão será retomada em 14 de setembro, em Porto Alegre, e chega a São Paulo nos dias 17 e 18 de outubro no mesmo Auditório do Ibirapuera.

Perda de Preta Gil e impacto na família

A cantora Preta Gil morreu em 20 de julho, aos 50 anos, em decorrência de um câncer descoberto em 2023. Durante o tratamento, recebeu apoio público de familiares e amigos, inclusive manifestações frequentes do pai. A despedida abalou a família, mas Gil decidiu manter compromissos profissionais a partir de agosto, adequando o calendário para ter tempo de recuperação emocional.

Em declarações anteriores à imprensa, o músico havia descrito a música como “refúgio e ofício”, justificando a escolha de voltar ao trabalho pouco depois da perda. No show de domingo, essa postura ficou evidente na interseção entre memória pessoal e celebração artística, sem discursos extensos ou arroubos emocionais, mas com referências diretas à filha.

Participação de Yuval Noah Harari

Convidado especial do SP2B, Harari apresentou palestra sobre avanços tecnológicos e desafios sociais para o futuro. Na conversa com Pedro Bial, abordou inteligência artificial, mudanças climáticas e ética digital. Ao final, dirigiu breves palavras a Gil, definindo-o como “patrimônio cultural brasileiro”.

Embora a plateia fosse reduzida em comparação às arenas lotadas da turnê, o ambiente do Auditório do Ibirapuera proporcionou atmosfera de proximidade. A combinação de homenagem familiar, repertório afetivo e diálogo com temas contemporâneos deu ao concerto caráter particular, marcando não apenas a retomada da agenda, mas também a primeira aparição pública de Gil após o luto.

Segundo a produção, não houve registro audiovisual oficial do show, pois a proposta era “experiência presencial reservada”. Entretanto, fotos de bastidores circularam nas redes sociais do cantor, reforçando a repercussão do momento.

Com a agenda reorganizada, Gilberto Gil prossegue com a turnê Tempo Rei até o fim de 2025, percorrendo capitais brasileiras e, posteriormente, algumas cidades da Europa. Os ingressos para as próximas datas já estão à venda em plataformas digitais.

A Sessão Inaugural do SP2B – São Paulo Beyond Business encerrou-se após o show, dando início a uma série de debates que se estenderão até 19 de agosto, reunindo profissionais de inovação, economia criativa e sustentabilidade.

Gil não falou com a imprensa ao deixar o auditório. Entretanto, por meio da assessoria, informou que “o carinho do público foi fundamental para este momento de reencontro com a música”.

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