Gravidez e deficiência: desafios de mulheres que desejam ser mães

Mulher com deficiência recebendo orientação de um profissional sobre gravidez e os desafios enfrentados por mulheres com deficiência que desejam ser mães.

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, lembrado em 21 de setembro, especialistas chamam atenção para os obstáculos enfrentados por mulheres com deficiência que pretendem engravidar ou já estão grávidas. O principal entrave é a combinação entre preconceito social, conhecido como capacitismo, e a falta de preparo do sistema de saúde para oferecer acompanhamento adequado.

A ginecologista Ana Horovitz, membro da Brazil Health, afirma que comentários como “será que você pode ser mãe?” seguem sendo comuns nos consultórios. “A maternidade deve ser entendida como um direito, não como concessão”, observa a médica. Esse tipo de abordagem, segundo ela, gera insegurança adicional às pacientes e pode fazê-las desistir do projeto de ter filhos.

Barreiras estruturais no pré-natal

Mesmo quando o desejo de engravidar se concretiza, a acessibilidade é limitada. Consultórios sem rampas, mesas ginecológicas não adaptadas e aparelhos de exame que não acomodam cadeiras de rodas tornam o pré-natal mais demorado e, em alguns casos, inviável. A inexistência de protocolos voltados especificamente para gestantes com deficiência resulta em cuidados fragmentados, o que eleva o risco de interrupções no acompanhamento.

A falta de preparo da equipe multiprofissional também impacta a qualidade do atendimento. Em muitos serviços públicos e privados, médicos, enfermeiros e fisioterapeutas não recebem capacitação sobre como adaptar procedimentos a diferentes limitações físicas, sensoriais ou intelectuais. Consultas mais longas, linguagem acessível e apoio psicológico são medidas citadas como essenciais para garantir um pré-natal humanizado.

Aspectos emocionais e sociais

Além das barreiras físicas, o olhar de desconfiança da sociedade pesa sobre a gestante. A pergunta “quem vai cuidar da criança?” ainda é recorrente. Para associações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência, esses questionamentos revelam um julgamento moral que ignora a capacidade de adaptação das famílias e reforça estereótipos sobre incapacidade de cuidado.

Desafios no pós-parto

Após o nascimento, o preconceito não desaparece. Relatos de profissionais de saúde indicam que mães com deficiência recebem com frequência orientações genéricas, sem levar em conta suas limitações específicas para amamentar, trocar fraldas ou locomover-se com o bebê. A integração de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e psicólogos é apontada como caminho para suprir essas necessidades e fortalecer a autonomia materna.

Organizações da sociedade civil defendem que investimentos em formação de equipes, aquisição de equipamentos adaptados e criação de protocolos clínicos específicos são passos fundamentais para reduzir as barreiras. Também recomendam campanhas de conscientização para combater o capacitismo e disseminar a ideia de que gravidez e deficiência podem coexistir sem prejuízo ao bem-estar da mãe e da criança.

No Brasil, mulheres com deficiência representam cerca de 8,4% da população feminina em idade reprodutiva, de acordo com dados do IBGE. A presença desse contingente reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à saúde reprodutiva inclusiva, que garantam atendimento digno e eficiente a todas.

Especialistas concluem que, quando há acolhimento e estrutura adequada, a experiência da maternidade se torna tão positiva quanto para qualquer outra mulher. Tornar realidade o direito de escolher ser mãe, sem barreiras físicas ou atitudes discriminatórias, é um dos desafios centrais apontados neste 21 de setembro.

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