
O Itaú Cultural (IC) apresentou, nesta terça-feira, 28 de outubro, em São Paulo, o Dossiê Acessibilidade, documento que reúne marcos legais, dados estatísticos e orientações práticas para que profissionais da cultura ampliem o acesso de pessoas com deficiência às produções artísticas.
Elaborado depois de pesquisas e visitas a quase 200 equipamentos culturais da Grande São Paulo, o material detalha como adequar espaços, espetáculos, exposições e publicações, e reforça o princípio da autonomia para um público estimado em mais de 18 milhões de brasileiros, segundo o dossiê. A publicação ficará disponível gratuitamente no site do instituto.
Durante o lançamento, o consultor de acessibilidade e produtor cultural Claudio Rubino observou que ações pontuais, como a instalação de rampas ou a contratação de intérpretes de Libras, não contemplam toda a diversidade de necessidades. “A adequação precisa ser contínua e construída coletivamente”, afirmou.
A pesquisadora Mariana Oliveira Arantes, que percorreu os equipamentos analisados, acrescentou que a acessibilidade deve ser entendida também como questão estética, não apenas técnica. Ela relatou situações em que pisos táteis levavam a paredes ou onde terminologias ultrapassadas, como “alunos especiais”, ainda eram usadas em oficinas culturais. “Os recursos precisam ser realmente convidativos e funcionais”, destacou.
O dossiê introduz o conceito de cultura def, expressão criada pela equipe do IC para valorizar experiências, corpos e capacidades diversas como insumos criativos. O relatório também revisita termos como “inclusão”, considerado hierárquico por Rubino, por sugerir que alguém concede lugar ao outro. A proposta é que pessoas com deficiência tenham participação igual nas decisões, e não apenas em funções operacionais.
Além das diretrizes gerais, o documento traz exemplos de projetos já realizados, entre eles a Bolsa de Artista Tomie Ohtake, que utilizou audiodescrição, texturas e paisagens sonoras para favorecer diferentes modos de fruição. Segundo a especialista em editoração Divina Prado, que integrou a iniciativa, a atualização constante de tecnologias — de CDs a QR Codes — é fundamental para manter a eficácia das ferramentas.
O lançamento do Dossiê Acessibilidade ocorre em um momento em que editais de fomento passaram a exigir ou pontuar ações voltadas às pessoas com deficiência, pressionando organizações artísticas a reverem práticas. Para Arantes, a mudança depende mais de disposição e comportamento do que de grandes investimentos financeiros.
Com linguagem direta, listas de verificação e glossário atualizado, o Itaú Cultural aposta que o documento se torne referência em acessibilidade cultural, contribuindo para que museus, teatros, bibliotecas e espaços independentes ofereçam experiências inclusivas de forma planejada e permanente.

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