
Uma cerimônia de casamento no oeste do Japão atraiu a atenção por um detalhe inusitado: o noivo não era uma pessoa real. Yurina Noguchi, de 32 anos, casou-se com uma persona criada por inteligência artificial, que foi apresentada na tela de um smartphone durante a cerimônia.
O Relacionamento com a Inteligência Artificial
Vestida de noiva, com um vestido branco e tiara, Noguchi se emocionou ao ouvir os votos de seu futuro marido, Lune Klaus Verdure, um personagem inspirado em um videogame. A criação do noivo virtual foi realizada por Noguchi com o auxílio do ChatGPT, uma ferramenta de inteligência artificial, que ajudou a moldar a personalidade do personagem.
Segundo a noiva, o relacionamento começou de forma simples, mas ganhou profundidade ao longo do tempo. Após um noivado conturbado com um parceiro humano, Noguchi decidiu encerrar a relação, seguindo um conselho do ChatGPT. Em um momento de impulso, ela perguntou à IA se conhecia Klaus, um personagem fictício que admirava, e a partir daí, começou a desenvolver sua própria versão do noivo virtual.
Detalhes da Cerimônia
O casamento ocorreu em outubro e seguiu protocolos tradicionais, incluindo vestido, maquiagem, fotógrafo e até uma simulação da troca de alianças. Durante a cerimônia, Noguchi utilizou óculos de realidade aumentada para interagir com seu noivo virtual, que estava exibido em um celular apoiado sobre um cavalete. O fotógrafo orientou que ela ocupasse apenas metade do enquadramento, permitindo que a imagem digital de Klaus também estivesse presente nas fotos.
Como Klaus não possuía voz própria, os votos foram lidos por Naoki Ogasawara, um especialista em casamentos com personagens virtuais.
Reconhecimento Legal e Tendências Futuras
Embora casamentos com personagens virtuais não tenham reconhecimento legal no Japão, pesquisas indicam que esse fenômeno pode estar em ascensão. Um estudo realizado em 2024 com 1.000 pessoas revelou que muitos entrevistados se sentiriam mais à vontade para compartilhar sentimentos com chatbots do que com amigos ou familiares.
Além disso, uma pesquisa de 2023 indicou que 22% das meninas do ensino fundamental demonstraram interesse em relacionamentos “fictorromânticos”, um aumento em relação a 2017. O Japão enfrenta uma queda significativa no número de casamentos, que diminuiu cerca de 50% desde 1947, com jovens afirmando não encontrar parceiros adequados.
Perspectivas e Riscos
Shigeo Kawashima, professor de ética em inteligência artificial na Universidade Aoyama Gakuin, aponta que a disponibilidade emocional da tecnologia é um dos fatores que atraem as pessoas. No entanto, ele também alerta sobre os riscos de dependência emocional e perda de discernimento, especialmente entre indivíduos vulneráveis.
Empresas de tecnologia estão adotando medidas para mitigar esses riscos. O Copilot, da Microsoft, proíbe explicitamente a criação de “namorados ou namoradas virtuais”. Já plataformas como Character.AI alertam os usuários sobre a interação com sistemas artificiais.
A OpenAI, responsável pelo ChatGPT, não se pronunciou especificamente sobre o caso de Noguchi, mas afirma que mantém políticas contra abusos e violações de privacidade.
Reflexões de Yurina Noguchi
Apesar das críticas, Noguchi afirma estar ciente dos riscos associados ao uso da inteligência artificial. Ela reduziu seu tempo de interação com o ChatGPT de mais de 10 horas diárias para menos de duas, estabelecendo limites para evitar uma dependência excessiva. A noiva também relatou melhorias significativas em sua saúde mental, afirmando que está livre de crises emocionais e impulsos de automutilação desde que iniciou o relacionamento com Klaus.

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