
Cães treinados para identificar oscilações de glicose conseguem alertar pessoas com diabetes tipo 1 antes mesmo dos sensores eletrônicos, afirma o adestrador Glauco Lima, que atua há três décadas no treinamento de animais de alerta médico.
Segundo Lima, o olfato canino, munido de cerca de 300 milhões de receptores, capta mudanças químicas mínimas liberadas pelo corpo em suor, respiração ou urina. Esses sinais indicam hipoglicemia ou hiperglicemia iminentes e permitem que o animal reaja com latidos, toques ou lambidas.
O profissional defende a criação de uma legislação específica que reconheça esses cães como recurso de assistência à saúde. “O cão não é milagre pronto; é resultado de processo técnico, individualizado e precisa de respaldo legal para circular com o tutor”, disse.
Hoje, famílias que desejam o apoio de um cão de alerta médico dependem de decisões judiciais pontuais para garantir acesso do animal a locais públicos, escolas, hospitais ou transporte coletivo. Países como Estados Unidos, Canadá e Reino Unido já possuem programas públicos que regulamentam e financiam esse serviço.
O procedimento recomendado por Lima começa com laudo médico que comprove hipoglicemias severas ou recorrentes. Em seguida, a família ingressa com pedido de liminar para assegurar o direito de uso do cão em qualquer ambiente. Paralelamente, o adestrador seleciona o animal, conduz o treinamento com amostras reais do tutor e acompanha o vínculo entre ambos.
A eficácia prática é relatada por Bruno Casulli, 34 anos, portador de diabetes tipo 1. Desde que passou a conviver com a chihuahua Geni, notou redução nos episódios graves durante a noite. “Ela me avisa antes do sensor, às vezes dez minutos antes da queda”, afirmou.
Pesquisas de universidades como Legacy Research Institute, Oregon Health & Science University, University of Bristol e University of Virginia sustentam a capacidade dos cães em antecipar variações glicêmicas. Contudo, no Brasil, o reconhecimento oficial ainda não avançou.
Para Lima, a regulamentação traria benefícios sociais e econômicos, inclusive ao estimular a adoção de animais abandonados e gerar empregos no setor. “Estamos falando de prevenção de desmaios, convulsões e hospitalizações; é questão de saúde pública”, concluiu.
Enquanto o debate legislativo não prospera, famílias recorrem ao caminho jurídico individual para garantir proteção adicional contra as flutuações de glicose, confiando no faro apurado dos cães de alerta médico.
Faça um comentário