
O quarto leilão do Eco Invest Brasil, programa federal que busca atrair capital privado para projetos sustentáveis, concentrará seus recursos exclusivamente na Amazônia. O edital foi apresentado nesta sexta-feira (14), em Belém, durante os debates preparatórios da COP30, e prevê mobilizar até US$ 4 bilhões em 2026 por meio de blended finance, combinação de recursos públicos e privados com diferentes níveis de risco.
Coordenada pelos Ministérios da Fazenda e do Meio Ambiente, a iniciativa integra o Plano de Transformação Ecológica e conta com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Embaixada do Reino Unido. O modelo adota capital catalítico, no qual governo e instituições financeiras assumem maior tolerância a riscos para viabilizar projetos com retorno social elevado.
Recursos para cadeias produtivas sustentáveis
Pela primeira vez, o Eco Invest canalizará todo o montante para a floresta em pé. Pequenas empresas, cooperativas, comunidades tradicionais e produtores locais são o público-alvo. Os projetos deverão se enquadrar em três eixos:
- Bioeconomia – cadeias da sociobiodiversidade, bioindústrias, insumos sustentáveis e restauração produtiva;
- Turismo ecológico – iniciativas de ecoturismo voltadas a visitantes internacionais;
- Infraestrutura habilitante – energia renovável descentralizada, conectividade digital, transporte e logística que apoiem as cadeias locais.
Estrutura financeira
O Tesouro Nacional oferecerá empréstimos às instituições vencedoras a juros de 1% ao ano. Cada banco ou fundo deverá captar valor privado quatro vezes superior ao recebido, sendo pelo menos 60% de origem estrangeira. Os recursos chegarão aos projetos via crédito direto ou fundos estruturados, sempre acompanhados de instrumentos de redução de risco.
Como incentivo extra, o Tesouro aportará volume adicional equivalente a 20% do capital levantado, destinado a assistência técnica e capacitação em projetos de maior complexidade, sobretudo de pequenos produtores. Além disso, o BID disponibilizará US$ 3,4 bilhões em derivativos para hedge cambial, protegendo investidores de oscilações no dólar; a operação deve começar no primeiro semestre de 2026.
Metas e cronograma
O governo pretende reunir até US$ 1 bilhão em recursos públicos – incluindo o Fundo Clima e linhas do próprio BID – e até US$ 3 bilhões do setor privado. A documentação do leilão será publicada nos próximos dias, com entrega de propostas e anúncio dos vencedores no início de 2026. Em caso de empate, pesará a capacidade de alavancagem, o potencial de bioindustrialização e o volume de capital estrangeiro comprometido.
Resultados anteriores
Lançado na COP28, em 2023, o Eco Invest já realizou três leilões, começando em 2024. Os certames movimentaram mais de R$ 75 bilhões (US$ 13,16 bilhões), dos quais R$ 46 bilhões (US$ 8 bilhões) vieram do exterior. Segundo o Tesouro, os compromissos internacionais somam US$ 14 bilhões.
Repercussão
Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o novo desenho “mostra que a floresta em pé gera mais valor do que a devastação”. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acrescentou que o leilão “fortalece cadeias da sociobiodiversidade e do turismo sustentável, promovendo renda e inclusão”. O presidente do BID, Ilan Goldfajn, avaliou que a rodada completa a arquitetura financeira desenhada para o programa.
A equipe econômica informou que a partir de 2026 o ritmo deve diminuir para um ou dois leilões anuais, com foco no aprimoramento da governança e na criação de um portal público para acompanhar resultados.

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