
O Banco do Brasil (BB) encerrou o segundo trimestre de 2025 com lucro líquido ajustado de R$ 3,8 bilhões, queda de 60% em relação ao mesmo período de 2024. A retração foi atribuída principalmente à elevação da inadimplência entre clientes pessoas físicas e produtores rurais, informou o banco na divulgação dos resultados nesta quinta-feira (14).
A cifra ficou abaixo das projeções de analistas do mercado financeiro, que esperavam resultado mais próximo de R$ 5 bilhões. O desempenho também pressionou o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), indicador que recuou de 20,2% para 8,4% em 12 meses.
Inadimplência avança e exige provisões maiores
A taxa de inadimplência total do BB subiu de 3% para 4,21% da carteira em um ano. No segmento do agronegócio, que responde por 33,8% do crédito do banco, os atrasos superiores a 90 dias atingiram 3,49%, alta de 0,45 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre e de 2,17 pontos em 12 meses.
Produtores de grãos enfrentam um surto de recuperações judiciais após perdas na safra 2024/2025, o que levou o banco a reduzir a concessão de empréstimos para o setor entre abril e junho. “Há um estoque de operações não liquidadas na safra passada que demanda maior provisionamento sob a nova regulação”, apontou o relatório de administração.
Entre pessoas físicas, a inadimplência passou de 4,81% para 5,59% em 12 meses. Esse segmento representa 26,3% da carteira total e voltou a crescer com o crédito consignado para trabalhadores com carteira assinada, lançado em março. Até junho, foram liberados mais de R$ 7 bilhões nessa modalidade, dando ao Banco do Brasil cerca de 24% de participação de mercado.
Provisionamento dobra e afeta resultado
A necessidade de provisão para perdas esperadas (PDD ampliada) atingiu R$ 15,9 bilhões no trimestre, avanço de 104% frente ao mesmo período do ano anterior. A forte elevação foi impulsionada por resolução do Banco Central que exige reserva de capital também para operações ainda não vencidas, mas com risco elevado.
No detalhamento por carteira, o banco estimou perdas de R$ 7,9 bilhões no agronegócio, R$ 4,8 bilhões em pessoas físicas e R$ 4,3 bilhões em empresas. Entre companhias, o provisionamento trimestral mais que dobrou, passando de R$ 1,7 bilhão para R$ 4,26 bilhões, enquanto a concessão de crédito corporativo cresceu apenas 1,8%. A inadimplência das empresas avançou de 3,38% para 4,18% em 12 meses.
Volume de crédito cresce, mas margem encolhe
A carteira de crédito totalizou R$ 1,3 trilhão em junho, expansão de 11,2% na comparação anual e de 1,3% em relação a março. Mesmo com o maior volume, a margem financeira bruta alcançou R$ 25,1 bilhões, com queda de 1,9% em 12 meses e avanço de 4,9% em base trimestral.
Para o ciclo 2024/2025 do Plano Safra, o Banco do Brasil desembolsou R$ 225,8 bilhões, mantendo a posição de principal financiador do agronegócio. A previsão para 2025/2026 é liberar até R$ 230 bilhões, dos quais R$ 54 bilhões destinados a pequenos e médios produtores e R$ 106 bilhões para agricultura empresarial, cooperativas e agroindústrias.

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Corte na projeção de dividendos
Com o aumento das despesas de provisão, a diretoria reduziu a estimativa de distribuição de dividendos. A expectativa passou de um payout entre 40% e 45% do lucro para 30%. Pela nova projeção, os acionistas devem receber entre R$ 6,3 bilhões e R$ 7,5 bilhões neste ano.
A presidente do BB, Tarciana Medeiros, afirmou que a queda do lucro era esperada em um momento de adaptação às normas prudenciais mais rigorosas. “Este é um ano de ajuste para acelerar o crescimento”, disse. Segundo ela, o banco projeta lucro anual entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões em 2025. “Seguimos com investimentos estruturantes para gerar valor aos nossos acionistas e oferecer as melhores soluções aos clientes”, acrescentou.
Cenário para o restante do ano
Embora o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projete safra recorde para 2025, o BB destacou que ainda há operações em aberto referentes à colheita anterior, o que mantém o nível de provisões elevado. O banco avalia que a inadimplência pode permanecer pressionada enquanto produtores rurais renegociam dívidas ou recorrem à Justiça.
No segmento de varejo, a instituição aposta na expansão do crédito consignado CLT e em iniciativas de educação financeira para controlar o avanço dos atrasos. Já na carteira corporativa, o foco será a concessão seletiva de crédito, priorizando empresas com menor risco setorial.
Apesar dos desafios, a instituição manteve o guidance de crescimento da carteira total de crédito em 10% a 14% para 2025, com ênfase nos financiamentos rurais e no crédito a pequenas e médias empresas.
Analistas consultados pelo mercado avaliam que a combinação de provisões robustas e desaceleração da margem financeira deve continuar impactando a rentabilidade do banco no curto prazo. Em contrapartida, destacam que o BB mantém posição de capital confortável e elevada cobertura de garantias na carteira agro, o que pode reduzir o efeito de perdas efetivas a partir de 2026.

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