
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva utilizou a abertura da 78ª Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, para criticar a adoção de sanções unilaterais pelos Estados Unidos e alertar para o avanço do autoritarismo no cenário internacional.
Em seu discurso, na terça-feira (19), Lula afirmou que o multilateralismo atravessa “nova encruzilhada” e que a autoridade da própria ONU “está em xeque” diante de uma “desordem internacional marcada por concessões à política do poder, atentados à soberania e intervenções unilaterais”.
Segundo o chefe de Estado, há uma relação direta entre o enfraquecimento de instituições globais e a erosão da democracia. “O autoritarismo se fortalece quando nos omitimos frente a arbitrariedades”, declarou. Para ele, quando a comunidade internacional hesita na defesa da paz, da soberania e do direito, “as consequências são trágicas”.
Lula citou ações recentes do governo norte-americano como exemplo de medidas que contrariam o direito internacional. Ele lembrou a tarifa de 50% imposta por Donald Trump sobre produtos brasileiros importados pelos EUA e criticou tentativas de interferir no Judiciário do país.
Em julho, o ex-presidente norte-americano recorreu à Lei Global Magnitsky para sancionar o ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) do processo que apura a suposta tentativa de golpe pelo ex-mandatário Jair Bolsonaro. O dispositivo bloqueia bens e empresas dos alvos nos Estados Unidos e pode restringir transações financeiras.
Além da sanção individual, Washington cancelou os vistos de outros ministros da Corte: Gilmar Mendes, Cármen Lúcia, Flávio Dino, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.
De acordo com Lula, pressão externa desse tipo agrava um quadro já ameaçado pela atuação de “forças antidemocráticas” que, em suas palavras, “cultuam a violência, exaltam a ignorância e atuam como milícias físicas e digitais”. O presidente ressaltou que, mesmo “sob ataques sem precedentes”, o Brasil “optou por resistir e defender sua democracia”, reconquistada há quatro décadas após uma ditadura militar de 21 anos.
Ao concluir, Lula reafirmou a necessidade de instituições multilaterais fortes para conter violações de soberania e proteger as liberdades. “Quando a sociedade internacional vacila, todos perdem”, afirmou, reforçando o apelo por reformas que tornem o sistema global mais representativo e eficaz.
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