
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta terça-feira (23), a 80ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, preservando a tradição de o Brasil ser o primeiro país a falar no plenário.
Durante pouco mais de 30 minutos, Lula afirmou que o multilateralismo vive “nova encruzilhada” e que a autoridade da ONU “está em xeque” diante de intervenções unilaterais e sanções arbitrárias. O mandatário classificou como “inaceitável” a aplicação de medidas punitivas contra a economia e o Poder Judiciário brasileiros, que, segundo ele, contam com apoio de “extrema direita subserviente”.
No campo interno, o chefe do Executivo citou a condenação de um ex-presidente por tentativa de golpe, destacando que o processo ocorreu “com amplo direito de defesa” e que a democracia brasileira é “inegociável”.
Lula dedicou parte do pronunciamento à crise no Oriente Médio. “Nada justifica o genocídio em curso em Gaza”, declarou, condenando também os atentados do Hamas. Para o presidente, o Estado palestino só se tornará viável com reconhecimento pleno pela comunidade internacional. Ele criticou o veto que impediu o presidente palestino Mahmoud Abbas de falar na sessão.
Sobre a guerra na Ucrânia, Lula avaliou que “não haverá solução militar” e citou a Iniciativa Africana e o Grupo de Amigos da Paz, formado por China e Brasil, como possíveis plataformas de negociação.
O presidente relacionou democracia ao combate à fome e informou que o Brasil voltou a ser retirado do Mapa da Fome da FAO em 2025. Ele apresentou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, lançada no G20 e já apoiada por 103 países, e defendeu maior financiamento ao desenvolvimento, alívio da dívida externa de nações pobres e padrões mínimos de tributação global para “que os super-ricos paguem mais impostos”.
Lula enfatizou a necessidade de regular plataformas digitais para proteger crianças e adolescentes, citando a lei brasileira recém-sancionada. “Regular não é restringir a liberdade de expressão; é tornar ilegal no ambiente virtual o que já é no mundo real”, pontuou.
A agenda climática ocupou espaço relevante do discurso. O presidente lembrou que 2024 foi o ano mais quente já registrado e anunciou que a Conferência do Clima de 2026 (COP30), a ser realizada em Belém, “será a COP da verdade”. O Brasil, disse, compromete-se a reduzir entre 59% e 67% as emissões de gases de efeito estufa e pretende lançar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, destinado a remunerar países que mantêm suas florestas em pé.
Para fortalecer a governança ambiental, Lula sugeriu a criação de um conselho climático vinculado à Assembleia Geral e reiterou a defesa de reforma mais ampla da ONU, com ampliação do Conselho de Segurança.
No tema segurança regional, o presidente reafirmou que a América Latina deve permanecer “zona de paz”, defendeu diálogo sobre a Venezuela e considerou “inadmissível” que Cuba seja classificada como patrocinadora do terrorismo. Também criticou a associação entre criminalidade e terrorismo no combate ao tráfico de drogas.
Lula encerrou citando as mortes de Pepe Mujica e do papa Francisco, que, segundo ele, simbolizavam valores humanistas alinhados à missão das Nações Unidas. “O século 21 será multipolar; para que seja pacífico, precisa ser multilateral”, concluiu.
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