
A defensora de direitos humanos Ana Paula Gomes de Oliveira, 48 anos, recebeu nesta semana o prêmio Martin Ennals, honraria internacional considerada o “Nobel dos Direitos Humanos”. A distinção reconhece sua atuação na denúncia da violência policial e no apoio a familiares de vítimas da letalidade do Estado.
Moradora da favela de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, Ana Paula passou a mobilizar outras mulheres após a morte do filho Johnatha, de 19 anos, baleado nas costas por um agente da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em 2014. O processo criminal segue sem desfecho definitivo e aguarda novo julgamento.
Transformando o luto em militância, Ana Paula cofunda o coletivo Mães de Manguinhos, que reúne mulheres negras para cobrar responsabilização do Estado em casos de homicídios, prisões ilegais e outras violações. Ela também integra a Rede de Assistência às Vítimas da Violência de Estado (Raave), responsável por oferecer suporte psicossocial às famílias e articular propostas de reforma legislativa.
A trajetória da ativista foi retratada pelo programa “Caminhos da Reportagem”, da TV Brasil, que recebeu menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Em 2023, ela participou ainda do podcast “Mães que Lutam”, produzido pela Empresa Brasil de Comunicação.
Mesmo sob ameaças, Ana Paula mantém agenda pública intensa. Em entrevista à Agência Brasil, afirmou: “Sinto que uma parte de mim morreu com meu filho. Através da minha luta, reencontrei meu papel materno; se parar, eu morro”.

Após a operação policial que resultou em 121 mortes no Rio de Janeiro no fim de outubro, a ativista defendeu transparência e controle externo sobre ações em favelas. “O que cobramos é que as operações ocorram dentro da legalidade, como em bairros de maior renda, onde há respeito”, declarou.
O prêmio Martin Ennals é concedido por um júri composto por organizações internacionais de direitos humanos, entre elas Anistia Internacional e Human Rights Watch. Ao laurear Ana Paula, o comitê destacou o pioneirismo do Mães de Manguinhos e o papel da rede Raave na promoção de mudanças legislativas que buscam reduzir a violência policial no Brasil.
A cerimônia de entrega ocorrerá em Genebra, sede da fundação que administra a premiação. Segundo a organização, a escolha de Ana Paula reforça a urgência de políticas de responsabilização e reparação em contextos de alta letalidade estatal.

Faça um comentário