Maioria dos adolescentes do Bolsa Família em 2014 já deixou programa

Um levantamento da Fundação Getulio Vargas revela que a maior parte dos adolescentes que recebiam o Bolsa Família em 2014 não integra mais o programa. Entre dezembro daquele ano e outubro de 2025, 68,8 % dos beneficiários com 11 a 14 anos e 71,25 % dos que tinham 15 a 17 anos deixaram de receber o benefício. Considerando todas as faixas etárias, a taxa de saída ficou em 60,68 %.

O estudo, intitulado “Filhos do Bolsa Família: Uma Análise da Última Década do Programa”, cruzou informações do Cadastro Único e da RAIS para acompanhar a trajetória de famílias inscritas. Segundo o economista Valdemar Pinho Neto, coordenador da pesquisa, “saber que os filhos do Bolsa Família não necessariamente permanecerão no programa no futuro diz muito sobre a sustentabilidade do Bolsa Família”.

A evasão foi mais acentuada em áreas urbanas: 67,01 % dos jovens de seis a 17 anos que moravam em cidades saíram do programa, ante 55,46 % na zona rural. Entre famílias que vivem da agricultura, 53,73 % deixaram o benefício, percentual inferior aos 69,73 % registrados entre as demais atividades.

O cenário do mercado de trabalho influencia esses resultados. Entre os adolescentes que se desligaram do programa de transferência de renda, 79,40 % tinham um responsável com carteira assinada. Outros 65,54 % estavam em lares com trabalhadores por conta própria; já 57,51 % tinham referência empregada sem registro e 52,35 % conviviam com pessoas que trabalhavam sem remuneração.

A escolaridade do chefe de família também pesou. Quando o responsável possuía ensino médio completo, 69,94 % dos dependentes saíram do Bolsa Família; quando o ensino fundamental estava incompleto, a taxa recuou para 57,59 %. Em relação ao sexo, 71,46 % dos homens deixaram de receber o benefício, ante 55,86 % das mulheres. No recorte racial, a saída foi maior entre brancos (71,78 %) e menor entre indígenas (44 %).

No evento de divulgação, no Rio de Janeiro, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, afirmou que o programa “tira da fome e cria condições para que as pessoas possam estudar, trabalhar e superar a pobreza”.

A divulgação do estudo coincide com dados recentes do IBGE, que apontam queda nas taxas de pobreza e extrema pobreza pelo terceiro ano seguido. Em 2024, a extrema pobreza ficou em 3,5 % da população, enquanto a pobreza atingiu 23,1 %. O instituto relaciona a melhora à recuperação do mercado de trabalho e à manutenção do Bolsa Família, embora ainda persistam disparidades regionais e raciais.

Os pesquisadores projetam que a “segunda geração” de beneficiários — netos dos inscritos originais — poderá alcançar mobilidade social mais elevada, dependendo da qualidade dos vínculos de trabalho dos responsáveis atuais.

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