
Levantamento do Instituto Data Favela aponta que 58% das 3.954 pessoas atualmente ligadas ao tráfico de drogas deixariam a atividade se obtivessem renda estável e segurança pessoal. O estudo, intitulado Raio-X da Vida Real, foi conduzido entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025 em favelas de 23 estados e é considerado o maior já feito com participantes ativos desse tipo de crime.
Ao serem questionados diretamente se abandonariam o crime diante de uma oportunidade, 31% responderam que não o fariam. Para 22%, abrir o próprio negócio seria o incentivo decisivo, enquanto 20% apontaram um emprego formal com carteira assinada.
A análise por unidade federativa mostra cenários contrastantes. No Ceará, 44% não sairiam do crime e 41% sairiam; no Distrito Federal, 77% permaneceriam e apenas 7% deixariam a atividade. Em Minas Gerais, 57% seguiriam no tráfico e 40% optariam pela saída.
Segundo os dados, a remuneração é o principal fator de permanência. 63% declaram ganhar até dois salários mínimos (R$ 3.040) e a renda média é de R$ 3.536 mensais; 18% afirmam que não sobra dinheiro ao fim do mês. “O custo-benefício de entrar no crime mostra-se baixo, pois o risco é alto e a renda, reduzida”, avaliou o diretor técnico do Data Favela, Geraldo Tadeu Monteiro.
A necessidade econômica também foi apontada como motivo inicial para ingressar no tráfico. “Muitos entram acreditando que terão vida melhor, mas descobrem rapidamente o contrário”, acrescentou Monteiro.
Para complementar a renda, 36% exercem outra atividade remunerada. Entre eles, 42% fazem bicos esporádicos, 24% administram pequenos empreendimentos, 16% possuem emprego com carteira assinada, 14% ajudam em negócios de amigos e 3% participam de projetos sociais.
O perfil dos entrevistados revela que 79% são homens, 74% se autodeclaram negros e metade tem entre 13 e 26 anos. Outros dados mostram que 80% nasceram e cresceram na mesma favela, 52% têm filhos e 42% não concluíram o ensino fundamental. Entre as figuras de referência, a mãe é citada por 43% e, somadas às avós, tias e companheiras, as mulheres respondem por 51% dos vínculos afetivos mais mencionados. Ainda assim, 84% dizem que não permitiriam que um filho ingressasse no crime.
Das 5 mil entrevistas aplicadas em locais onde o tráfico atua, 3.954 foram consideradas válidas. O questionário continha 84 perguntas e apresenta margem de erro de 1,56 ponto percentual, com nível de confiança de 95%.

Faça um comentário