Tratamento de câncer acelera menopausa precoce e desafia qualidade de vida

Profissional de saúde realizando exame de mamografia, uma mulher em fundo observando a imagem na tela, em ambiente clínico com equipamentos médicos.

Mulheres entre 30 e 40 anos que enfrentam o câncer podem ter a produção hormonal interrompida de forma súbita, entrando em menopausa precoce meses ou até semanas após o início da terapia oncológica. O fenômeno, apontado por especialistas, expõe lacunas no acompanhamento pós-tratamento e afeta milhares de pacientes no Brasil.

Como os tratamentos afetam ovários e útero

Quimioterápicos da classe dos alquilantes, como a ciclofosfamida — amplamente utilizada contra o câncer de mama —, danificam diretamente os folículos ovarianos, reduzindo a reserva de óvulos e derrubando os níveis de estrogênio e progesterona. Quando a doença exige radioterapia na pelve, a radiação pode destruir tecido ovariano mesmo em doses moderadas e comprometer a capacidade do útero de abrigar uma gestação futura.

Em tumores ginecológicos, cirurgias que retiram ovários ou útero levam à menopausa imediata e irreversível. Já para pacientes com neoplasias hormônio-sensíveis, medicamentos que “desligam” temporariamente os ovários — caso de leuprorrelina, gosserrelina e triptorrelina — ou bloqueadores como tamoxifeno e inibidores de aromatase também precipitam sintomas típicos da menopausa.

Sintomas físicos intensos e impacto emocional

O corte abrupto de hormônios provoca ondas de calor, suores noturnos, ressecamento vaginal, dores articulares, ganho de peso e perda óssea acelerada. Ao mesmo tempo, sentimentos de luto pela fertilidade, medo de envelhecimento precoce e ansiedade sobre a vida sexual surgem com frequência. “Muitas pacientes descrevem a menopausa induzida como um segundo choque, que chega quando imaginavam estar livres do maior risco”, observa a oncologista Larissa Müller Gomes.

Falta de diálogo nos consultórios

Especialistas relatam que consultas oncológicas ainda priorizam a remissão da doença, deixando em segundo plano o debate sobre qualidade de vida. A ausência de orientação adequada dificulta que mulheres reconheçam que os sintomas estão ligados ao tratamento e busquem ajuda. “É essencial que a equipe multidisciplinar inclua ginecologistas, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas desde o início”, afirma a médica.

Opções de manejo hormonal

A terapia de reposição hormonal pode aliviar quadros severos, mas requer avaliação individual. Pacientes com históricos de tumores hormônio-dependentes geralmente não recebem estrogênio sistêmico; nesses casos, cremes vaginais de baixa dose podem ser indicados para aliviar secura e dor. Para mulheres sem contraindicação, reposição personalizada ajuda a prevenir osteoporose e doenças cardiovasculares, além de melhorar sono e libido.

Abordagens integrativas complementam cuidados

Práticas como acupuntura, mindfulness e exercícios físicos supervisionados reduzem ondas de calor, controlam ansiedade e preservam massa óssea. Evidências internacionais também apontam benefícios de fitoterapia segura e terapias corporais na recuperação da autoconfiança e na adaptação ao novo perfil hormonal.

Necessidade de políticas de apoio contínuo

Entidades médicas defendem a criação de protocolos que incluam avaliação da fertilidade antes do início da quimioterapia, oferta de preservação de óvulos quando possível e acompanhamento psicológico prolongado. A discussão aberta sobre menopausa precoce pretende não apenas informar, mas garantir que sobreviventes de câncer tenham suporte completo para retomar projetos pessoais, profissionais e familiares.

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