
Uma pesquisa nacional que envolveu 2,3 milhões de alunos de 21 mil escolas revelou que apenas 39% dos estudantes do 6º e 7º anos e 26% dos matriculados no 8º e 9º anos dizem respeitar e valorizar seus professores. O levantamento, divulgado nesta terça-feira (9) em Brasília, foi conduzido pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com Consed, Undime e Itaú Social durante a Semana da Escuta das Adolescências nas Escolas, que mobilizou 46% das unidades que ofertam os anos finais do ensino fundamental.
O estudo fornecerá subsídios para a primeira política nacional voltada a essa etapa, caracterizada pela transição da infância para a adolescência. Segundo a Secretaria de Educação Básica, a iniciativa pretende adequar currículo, formação docente e infraestrutura escolar às especificidades desse público.
Na apresentação dos resultados, a secretária da SEB, Katia Schweickardt, destacou que a escuta dos alunos evidencia múltiplas formas de aprender. “Precisamos preparar professores, equipamentos e comunidade para salas com diferentes perfis”, afirmou. Ela acrescentou que o currículo deve ser entendido como “uma experiência viva e significativa”, não apenas como lista de conteúdos.
A sondagem comparou grupos etários. Entre estudantes do 6º e 7º anos, 66% afirmam sentir-se acolhidos pela escola; no 8º e 9º anos, o índice cai para 54%. Quando indagados sobre confiança em adultos, 75% dos mais jovens dizem contar com pelo menos um funcionário da escola, enquanto 58% sentem efetivo amparo. Entre os mais velhos, o acolhimento cai para 45%.
O sentimento de pertencimento varia conforme o contexto socioeconômico: em unidades com maior vulnerabilidade, 69% consideram a escola acolhedora, ante 56% nos locais de menor vulnerabilidade. No campo da socialização, 65% dos estudantes dos 6º e 7º anos avaliam que a escola facilita amizades, proporção que recua para 55% nos anos finais.
Para Tereza Perez, da organização Roda Educativa, ignorar a diversidade de ritmos e interesses pode levar à evasão escolar. “A padronização do ensino desconsidera a heterogeneidade presente em todas as salas e acaba culpabilizando quem não aprende”, alertou.
Quanto aos conteúdos considerados mais importantes para o desenvolvimento pessoal, os alunos mais novos colocam as disciplinas tradicionais em primeiro lugar (48%), seguidas de temas ligados a corpo e aspectos socioemocionais (31%), habilidades para o futuro, como tecnologia e educação financeira (21%), e direitos e sustentabilidade (13%). Entre os estudantes do 8º e 9º anos, o peso das matérias convencionais diminui para 38%, enquanto habilidades para o futuro sobem para 24%.
Exemplos práticos de programas de apoio também foram apresentados. A acreana Dandara Vieira Melo, 13 anos, beneficiada pelo Programa Travessia do Unicef, relatou ter recuperado o interesse pelos estudos após ajuste de série: “A escola passou a ser um lugar para aprender, conhecer novas pessoas e fazer amizades”.
Os organizadores defendem que ouvir os adolescentes é etapa fundamental para reduzir abandono, melhorar o clima escolar e fortalecer o vínculo entre alunos e docentes. O relatório completo servirá de base para a construção da Política Nacional da Escola das Adolescências, em desenvolvimento pelo MEC desde 2023.
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