
Um relatório anual do Global Carbon Project, produzido por mais de 130 pesquisadores, projeta que as emissões globais de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis devem crescer 1,1% em 2025, alcançando 38,1 bilhões de toneladas. A previsão estabelece um novo recorde e reforça a avaliação de que limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais, compromisso central do Acordo de Paris, “já não é mais plausível”.
Com esse volume adicional, a concentração de CO₂ na atmosfera deve atingir 425,7 partes por milhão no próximo ano — 52% acima do período anterior à Revolução Industrial. Restariam apenas 170 bilhões de toneladas no chamado “orçamento de carbono” antes que a temperatura ultrapasse o limite de 1,5 °C. Mantido o ritmo atual, essa margem será consumida antes de 2030.
O professor Pierre Friedlingstein, do Global Systems Institute da Universidade de Exeter e líder do estudo, afirmou que “o orçamento de carbono restante para 1,5 °C será esgotado em poucos anos”, enfatizando a necessidade de cortes “drásticos” nas emissões. O documento sugere, em cenário mais realista, perseguir um teto de 1,7 °C.
Fontes de emissão e sumidouros
Todos os principais combustíveis fósseis contribuem para a alta prevista: carvão (+0,8%), petróleo (+1%) e gás natural (+1,3%). Desde 1960, cerca de 8% do aumento na concentração atmosférica de CO₂ provém do enfraquecimento de sumidouros terrestres e oceânicos, ecossistemas que naturalmente capturam o gás. Os cientistas alertam que o aquecimento já em curso diminui a capacidade desses sumidouros, agravando o problema.
As emissões resultantes de desmatamento permanecem em torno de 4 bilhões de toneladas de CO₂ por ano. A regeneração florestal e o reflorestamento removem aproximadamente metade desse total, mas não o suficiente para compensar os cortes exigidos para conter o aquecimento global.
Perspectiva setorial
A aviação internacional deve elevar suas emissões em 6,8% em 2025, superando os níveis registrados antes da pandemia de covid-19. Já o transporte marítimo internacional tende a permanecer estável.
Projeção por país
Nos Estados Unidos, as emissões devem aumentar 1,9%, revertendo a trajetória de queda dos últimos anos. Na União Europeia, a alta estimada é de 0,4%. A China projeta avanço de 0,4%, ritmo inferior ao recente em razão do crescimento moderado do consumo energético e da expansão das renováveis. A Índia deve registrar incremento de 1,4%, também abaixo da tendência histórica, ajudada por uma monção precoce que reduziu a demanda por refrigeração e por maior participação de fontes limpas. O Japão caminha para redução de 2,2%, enquanto o conjunto dos demais países aponta crescimento médio de 1,1%.
Para os autores do relatório, a continuidade do crescimento das emissões fósseis mostra que as metas climáticas exigem ações mais rápidas e profundas. “É um sinal claro do planeta de que precisamos reduzir drasticamente as emissões”, ressaltou Friedlingstein.
A menos de cinco anos do esgotamento do orçamento de carbono para 1,5 °C, o estudo reforça que a janela de oportunidade para manter o aquecimento global em níveis considerados relativamente seguros está se fechando.

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