
O jornalista ítalo-brasileiro Mino Carta morreu nesta terça-feira (2), em São Paulo, aos 91 anos. Fundador e diretor de redação da revista Carta Capital, ele enfrentava problemas de saúde que motivaram sucessivas internações, informou a publicação.
Nascido em Gênova, Itália, em 1933, Demetrio Carta – conhecido profissionalmente como Mino – chegou ao Brasil aos 13 anos, após a Segunda Guerra Mundial. Sua trajetória no jornalismo começou na revista Quatro Rodas, da Editora Abril, ainda na década de 1960. Em tom bem-humorado, costumava lembrar que entrou para a equipe sem saber dirigir nem diferenciar um Volkswagen de uma Mercedes.
Em 1966, integrou o grupo que criou o Jornal da Tarde. Dois anos depois, comandou o lançamento da Veja, hoje uma das principais revistas semanais do país. Em 1976, liderou a fundação da IstoÉ. Já em 1994, inaugurou a Carta Capital, veículo que se posiciona como referência de jornalismo progressista no Brasil.
Carta também participou do Jornal da República, lançado em 1979 ao lado de Cláudio Abramo. A iniciativa buscava aproveitar o início da abertura política do regime militar, mas foi encerrada poucos meses depois por dificuldades econômicas e pela resistência de veículos concorrentes, relatou o próprio jornalista.
Ao longo da ditadura, as publicações dirigidas por Mino Carte denunciavam violações de direitos e davam voz a grupos que lutavam por liberdade. Em mensagem nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse receber “com muita tristeza” a notícia da morte do amigo e destacou que, “em meio ao autoritarismo, suas revistas expunham o abuso dos poderosos”.
Em entrevista recente ao escritor Lira Neto, para o livro “Memória do Jornalismo Brasileiro Contemporâneo”, Carta fez duras críticas à influência das plataformas digitais sobre a imprensa. “A internet limitou o jornalismo e passou a pautar os jornais”, declarou. Na mesma conversa, afirmou que a independência editorial tem custo alto: “Eu poderia estar muito rico. A única coisa que tenho é um apartamento que tento vender, porque não tenho mais dinheiro”.
Ao avaliar o cenário nacional, manifestava ceticismo quanto ao futuro do país e da profissão. Mesmo assim, manteve até o fim a rotina diária na redação da Carta Capital, onde assinava colunas e supervisionava reportagens.
Com a morte de Mino Carta, o jornalismo brasileiro perde um profissional que participou diretamente da criação de três das principais revistas de informação do país, além de projetos de imprensa escritos que marcaram diferentes períodos políticos.
A família não divulgou informações sobre velório ou sepultamento até a última atualização deste texto.
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