
O Ministério Público de São Paulo denunciou três policiais militares pelos disparos que quase mataram o motoboy Evandro Silva durante a Operação Escudo, no litoral sul paulista. A acusação por tentativa de homicídio foi protocolada com base em imagens de câmeras corporais e em laudos periciais que contradizem a versão apresentada pelos agentes.
A Operação Escudo foi iniciada em 28 de julho de 2023, após o assassinato de um policial na Baixada Santista, e durou 40 dias. Nesse período, 28 pessoas morreram, segundo registros oficiais. O ataque a Evandro ocorreu em 30 de agosto do mesmo ano, no Morro do José Menino, em Santos.
De acordo com a denúncia, os militares invadiram uma pequena empresa de entregas onde o motoboy trabalhava. Ele já havia sido revistado e informado aos agentes ser egresso do sistema prisional. Enquanto se trocava no banheiro, foi atingido por um tiro de espingarda calibre 12 disparado de fora do prédio. Ferido, Evandro quebrou a janela e saltou de uma altura de cerca de sete metros, caindo sobre uma pedra. No solo, recebeu novos disparos de pistola e foi dado como morto.
Socorristas do Samu constataram que a vítima ainda apresentava sinais vitais. Segundo o relato de Evandro, os policiais demonstraram surpresa quando o profissional de saúde afirmou: “agora ele está conosco”. O motoboy recobrou a consciência apenas duas semanas depois, já no hospital.
As imagens das câmeras corporais, divulgadas posteriormente, mostram que Evandro não portava arma nem reagiu à abordagem, reforçando a tese de tentativa de execução. A Promotoria sustenta que os policiais agiram com intenção de matar e que a segunda série de tiros teve o objetivo de assegurar o resultado letal.
O processo corre em segredo de Justiça, assim como outras 21 investigações relacionadas à Operação Escudo. Dessas, 17 foram arquivadas pela Justiça estadual; duas resultaram em outras cinco denúncias contra policiais militares.

Em setembro de 2024, pesquisadores da Universidade Federal Fluminense publicaram relatório apontando falhas graves nas apurações do caso, incluindo perda de evidências e ausência de perícias independentes.
Em nota enviada por sua defesa, Evandro afirmou que a denúncia “significa que a minha voz foi ouvida e que a verdade começa a ser reconhecida”. Ele acrescentou: “Sobreviver já foi um ato de resistência. Ver a Justiça se mover dá esperança de que minha dor não será em vão”.
O motoboy agradeceu o apoio de organizações de direitos humanos e de familiares de vítimas da violência policial, como o coletivo Mães de Maio, e disse esperar que o processo avance para responsabilizar os envolvidos.
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