
A Agência Aeroespacial dos Estados Unidos (Nasa) intensifica suas missões espaciais para responder a uma das perguntas mais antigas da ciência: existe vida além da Terra? A estratégia ganhou novo fôlego em 10 de setembro, quando a agência informou ter identificado possíveis bioassinaturas em uma rocha de Marte analisada pelo rover Perseverance.
O material, denominado Chevaya Falls, foi encontrado na cratera Jezero, área que há bilhões de anos abrigou rios e lagos. As medições do robô indicaram uma combinação de minerais e substâncias orgânicas que podem ter se formado a partir de processos biológicos, sugerindo a presença de microfósseis. O resultado, publicado na revista Nature após revisão por pares, é considerado o indício mais promissor já obtido em Marte, embora não conclusivo: processos químicos não biológicos também podem explicar o achado.
Para confirmar a hipótese, a Nasa planeja trazer amostras do solo marciano para laboratórios terrestres. Segundo o administrador interino Sean Duffy, o retorno do material depende de avaliação orçamentária, cronograma e tecnologia para a missão de resgate.
A astrônoma brasileira Rosaly Lopes, vice-diretora de Ciências Planetárias do Jet Propulsion Laboratory, reforça a cautela: “Os instrumentos do Perseverance são limitados; a prova definitiva só virá com análises em laboratórios na Terra”. Ela acrescenta que sinais similares podem ter origem abiótica, o que exige verificação detalhada.
Enquanto aguarda o próximo passo em Marte, a Nasa prepara outras iniciativas voltadas à busca por vida extraterrestre. Entre elas está a missão Dragonfly, programada para 2028–2029, que enviará um drone a Titã, lua de Saturno com lagos de hidrocarbonetos e geologia comparável à terrestre. O veículo carregará um conjunto de sensores para examinar material orgânico e avaliar se a vida poderia ter evoluído naquele ambiente gélido.

No mesmo período, a agência mantém o cronograma da missão Artemis II, prevista para 2026, que levará tripulantes a orbitar a Lua e incluirá, pela primeira vez, a astronauta Christina Koch. Para Rosaly Lopes, a participação feminina é decisiva para inspirar novas gerações: “Mulheres precisam ver que também podem atuar na exploração espacial”.
Outra frente de investigação é o estudo de objetos interestelares, como o cometa 3I/Atlas. Embora ainda não exista uma nave pronta para decolagem imediata, equipes da Nasa avaliam formas de registrar imagens e dados desses corpos celestes raros, capazes de revelar características de sistemas solares além do nosso.
Com o apoio do telescópio James Webb, responsável por imagens inéditas do Universo, e da missão Psyche, dedicada a um asteroide metálico, a Nasa articula uma série de missões espaciais complementares. Todas convergem para o mesmo objetivo: compreender como a vida surge e se distribui no Sistema Solar e, possivelmente, em planetas de outras estrelas.
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