
A primeira semana da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém, terminou neste sábado (15) com negociações aceleradas, mas ainda sem consenso sobre financiamentos, metas de mitigação e parâmetros de adaptação. Delegações de 194 países precisam fechar os textos finais para submetê-los, na próxima semana, a ministros de alto escalão encarregados de buscar possíveis acordos finais.
Entre os pontos centrais está o Artigo 9.1 do Acordo de Paris, que prevê a obrigação de países desenvolvidos financiarem ações climáticas nos países em desenvolvimento. A COP29 estabeleceu um valor anual de US$ 300 bilhões, considerado insuficiente. Presidências da COP29 e da COP30 sugeriram elevar a mobilização para até US$ 1,3 trilhão por ano, mas ainda não há clareza se o montante avançará.
Outro tema sensível é o relatório-síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Cientistas calculam que as emissões globais precisariam cair 5% ao ano já a partir de 2026, mas projeções indicam um possível aumento de 1% em 2025. “A lacuna não pode continuar; as emissões precisam converter um crescimento de 1% em queda de 5% já no próximo ano”, afirmou o sueco Johan Rockström, do Instituto Potsdam, destacando a necessidade de remover 2 bilhões de toneladas de CO₂ da economia mundial.
No campo político, a COP30 registrou a formação de uma coalizão de ao menos 23 países — incluindo Reino Unido, Alemanha, União Europeia e Colômbia — a favor do abandono gradual dos combustíveis fósseis. A sinalização reflete o discurso apresentado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cúpula do Clima e coloca o tema no centro das discussões para a segunda etapa da conferência.
Entidades da sociedade civil veem espaço para avanços. Para Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, “começou a surgir uma coalizão que indica um caminho claro de transição energética”. Organizações como WWF-Brasil e IPAM também consideram que a dinâmica nas salas de negociação foi mais rápida do que em encontros anteriores, embora ressaltem a resistência de países produtores de petróleo.
O debate sobre a Meta Global de Adaptação (GGA) permanece travado. As partes discutem cerca de 100 indicadores que permitirão avaliar se os países estão melhorando sua resiliência a eventos extremos. O Grupo Africano, que reúne 54 nações, propôs estender o trabalho técnico e adiar a decisão final para 2027, provocando preocupação entre governos e observadores. A demora, argumentam especialistas, pode atrasar investimentos essenciais para populações vulneráveis.
Florence Laloë, da Conservação Internacional, alertou que um eventual adiamento “poderá desacelerar ações e frustrar países mais expostos aos impactos climáticos”. Eventos recentes como inundações no Rio Grande do Sul e temporais no Paraná foram citados como exemplos de urgência na definição de critérios para adaptação.
Os negociadores têm agora menos de uma semana para transformar esboços em textos consolidados. O sucesso da COP30 dependerá da capacidade de conciliar expectativas sobre financiamento climático, redução de emissões e indicadores de adaptação, enquanto ganham força as discussões sobre a eliminação dos combustíveis fósseis. A próxima fase, comandada pelos ministros, dirá se o impulso inicial se converterá em compromissos robustos capazes de manter a meta de limitar o aquecimento global a 1,5 °C.

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