
Pesquisas recentes indicam que o declínio cognitivo não é inevitável na terceira idade. Estudos acadêmicos e clínicas especializadas vêm testando intervenções capazes de reativar a plasticidade neural, melhorar a memória e prolongar a autonomia de pessoas com 60 anos ou mais.
Desde os 30 anos, o cérebro perde gradualmente volume em áreas ligadas à memória e à atenção, como hipocampo e córtex pré-frontal. A redução se intensifica depois dos 60, acompanhada de menor velocidade de processamento e alterações nos neurotransmissores dopamina, acetilcolina e serotonina. Apesar disso, a neuroplasticidade — capacidade de criar novas conexões e até neurônios em algumas regiões — permanece ativa e pode ser estimulada.
Terapias farmacológicas e não farmacológicas
Medicamentos em fase de teste buscam retardar processos inflamatórios e oxidativos relacionados à demência. Paralelamente, intervenções não farmacológicas ganham espaço na rotina de atendimento:
- Treino cognitivo – plataformas digitais, novos idiomas e instrumentos musicais aumentam flexibilidade mental;
- Exercício aeróbico e musculação – elevam fluxo sanguíneo cerebral, liberam neurotransmissores e favorecem a neurogênese;
- Neuromodulação – técnicas como estimulação magnética transcraniana (EMT) e realidade virtual mostram melhora em testes de atenção e memória;
- Hábitos de vida – sono reparador, dieta mediterrânea ou MIND e controle de hipertensão, diabetes e colesterol protegem neurônios.
Na avaliação da geriatra Julianne Pessequillo, “o que é bom para o coração quase sempre é bom para o cérebro; controlar doenças crônicas é parte fundamental da estratégia”. A especialista lembra que manter o idoso socialmente ativo potencializa os efeitos dos programas de estimulação.
Evidência brasileira
Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) acompanhou idosos com comprometimento cognitivo leve submetidos a musculação duas vezes por semana, em intensidade moderada a alta, durante seis meses. Resultados indicaram proteção contra atrofia no hipocampo e no pré-cúneo, além de ganhos significativos na memória episódica verbal — primeira habilidade a declinar no envelhecimento.
Segundo os pesquisadores, os participantes também apresentaram melhor mobilidade funcional, resistência muscular e condicionamento cardiorrespiratório, fatores que contribuem para maior independência.
Próximos passos
Embora algumas técnicas de neuromodulação ainda estejam restritas a centros de pesquisa, a tendência é que se tornem mais acessíveis conforme evidências de segurança e eficácia se consolidem. Programas públicos de envelhecimento ativo já discutem a inclusão de treinamento cognitivo computadorizado e de atividades físicas orientadas em unidades básicas de saúde.
Para especialistas, o envelhecimento cerebral deve ser encarado como processo ativo. Combinar exercícios físicos, desafios mentais, dieta balanceada e controle de doenças cardiovasculares pode adiar o declínio cognitivo e, em muitos casos, recuperar funções já comprometidas.
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