Ozonioterapia: uso em estudo, dúvidas e riscos segundo a ciência

Doutora realizando uma sessão de ozonioterapia com uma seringa em equipamento especializado, evidenciando o uso da técnica sob estudos científicos, dúvidas e riscos.

A ozonioterapia, prática que combina ozônio e oxigênio gerados em equipamentos específicos, ganhou visibilidade em consultórios brasileiros, mas ainda carece de comprovação robusta. Pesquisas publicadas até o momento envolvem amostras pequenas, métodos diversos e curtos períodos de acompanhamento, o que dificulta estabelecer protocolos padronizados.

O gás, altamente oxidante, pode ser aplicado diretamente em articulações, discos intervertebrais, cavidades corporais ou sob a forma de água e óleos ozonizados. Em alternativa sistêmica, parte do sangue é retirada, exposta ao O2-O3 e reinfundida. A hipótese é que doses baixas provoquem um estímulo oxidativo controlado capaz de ativar defesas antioxidantes e modular mediadores inflamatórios, reduzindo dor e melhorando a microcirculação por tempo limitado.

Evidência onde o resultado é mais consistente

Na osteoartrite de joelho, revisões sistemáticas apontam diminuição da dor no curto prazo e perfil de segurança aceitável. Ainda assim, não se demonstrou vantagem clara sobre infiltrações consagradas de corticosteroide ou ácido hialurônico, tampouco a quantidade ideal de sessões.

Para dor lombar associada à hérnia de disco contida, a quimionucleólise intradiscal com ozônio mostrou índices de alívio superiores a esteroide ou placebo em até seis meses, permitindo que parte dos pacientes evitasse cirurgia nesse intervalo. O procedimento, contudo, requer seleção criteriosa e equipes treinadas.

Áreas com evidência frágil ou inconclusiva

Feridas crônicas, como as do pé diabético, continuam sem ensaios controlados que confirmem maior taxa de cicatrização além do cuidado padrão. Na odontologia, estudos sobre cárie e periodontite são heterogêneos e de pequena escala, resultando em certeza muito baixa.

Doença do aparelho digestivo também permanece no campo experimental. Relatos de melhora do sangramento em proctite actínica com insuflação retal não alteraram diretrizes, que continuam a indicar métodos endoscópicos, agentes tópicos e, em casos selecionados, oxigenoterapia hiperbárica. Resultados isolados em colite ulcerativa distal e no pós-operatório de hemorroidectomia necessitam confirmação independente.

O que não fazer e alegações sem base

Autoridades médicas ressaltam que a ozonioterapia não substitui tratamentos validados para infecção, isquemia, câncer ou doenças inflamatórias. Promessas de “desintoxicar o organismo”, “fortalecer imunidade” ou tratar Covid-19 não são sustentadas por ensaios clínicos de qualidade.

Riscos e contraindicações

Embolia gasosa é o evento grave mais temido, com registros de acidente vascular cerebral e infarto. “O gás jamais deve ser injetado na veia”, alerta o cirurgião Antonio Couceiro Lopes. A inalação também é contraindicada, pois o ozônio irrita o tecido pulmonar e aumenta eventos respiratórios em estudos populacionais. Gestantes, portadores de doenças pulmonares ativas, deficiência de G6PD ou infecção no local de aplicação exigem avaliação detalhada. Efeitos menores incluem dor transitória, tontura e resposta vasovagal.

Como decidir na prática

A indicação deve partir de diagnóstico confirmado e após esgotar medidas convencionais. Em artrose de joelho, a meta é aliviar sintomas por algumas semanas quando fisioterapia, anti-inflamatórios e perda de peso falham. Em hérnia de disco, a opção pode adiar a cirurgia, desde que o paciente compreenda as incertezas de longo prazo. “É fundamental explicar que os resultados são limitados e temporários”, acrescenta Lopes.

Enquanto faltam estudos amplos, a ozonioterapia deve ser aplicada apenas por profissionais capacitados, em ambiente adequado e com consentimento informado claro. O cenário atual permanece de investigação: possível benefício pontual, evidência restrita e riscos que exigem vigilância rigorosa.

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