
A economia brasileira registrou expansão de 0,5% do primeiro para o segundo trimestre de 2025, de acordo com estimativas do Monitor do Produto Interno Bruto (PIB) elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). O resultado representa desaceleração relevante diante da alta de 1,3% observada nos três primeiros meses do ano.
O Monitor do PIB é divulgado mensalmente e serve como indicador antecedente do dado oficial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Todas as comparações trimestrais foram dessazonalizadas para neutralizar variações típicas de calendário, como número de dias úteis ou efeitos climáticos.
Serviços e indústria sustentam avanço moderado
A FGV apontou que o crescimento no segundo trimestre foi apoiado principalmente pelo setor de serviços, com expansão disseminada entre as atividades. Na indústria, porém, o desempenho favorável concentrou-se na atividade extrativa, sugerindo maior fragilidade dos demais segmentos manufatureiros.
Em coletiva, a economista do Ibre, Juliana Trece, destacou que a perda de ritmo era esperada. “A agropecuária não repetiu a forte contribuição do primeiro trimestre e o patamar elevado da Selic começa a se refletir com maior intensidade sobre o consumo e o investimento”, afirmou.
Na comparação com o segundo trimestre de 2024, o PIB brasileiro cresceu 2,4%. No acumulado de 12 meses encerrados em junho, a alta atinge 3,2%. Em valores correntes, a FGV estima que o PIB do primeiro semestre totalizou R$ 6,109 trilhões.
Consumo das famílias perde fôlego
O levantamento mostrou trajetória de desaceleração no consumo das famílias. A taxa de crescimento, que era de 3,7% no quarto trimestre de 2024, passou para 2,6% no primeiro trimestre de 2025 e chegou a 1,5% entre abril e junho, sempre em relação aos mesmos períodos do ano anterior.
Segundo Juliana Trece, o enfraquecimento do consumo está diretamente associado ao aumento dos juros. “O efeito contracionista da política monetária costuma aparecer entre seis e nove meses após o início do ciclo. Esse intervalo coincide com a queda gradual observada desde o fim de 2024”, explicou.
Juros em 15% e pressão sobre a atividade
A taxa básica de juros subiu de 10,5% ao ano, em setembro do ano passado, para os atuais 15%, maior nível desde julho de 2006. A escalada foi conduzida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) para conter a inflação, que permanece acima do teto da meta de 4,5% desde setembro de 2024.
Juros mais altos encarecem o crédito para famílias e empresas, reduzem a disposição a investir e reforçam a atratividade de aplicações financeiras, restringindo a circulação de recursos na economia real. Esses fatores contribuem para menor geração de emprego e renda, o que acaba por limitar o crescimento do PIB brasileiro.
Indicadores de curto prazo confirmam desaceleração
Além do Monitor do PIB, o Banco Central publicou nesta segunda-feira (18) o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), que apontou expansão de 0,3% do primeiro para o segundo trimestre. Em 12 meses, o IBC-Br acumula alta de 3,9%.
Os resultados do IBC-Br costumam convergir com aqueles medidos pelo Monitor do PIB, ainda que as metodologias difiram. A divulgação do dado oficial do IBGE para o segundo trimestre está marcada para 2 de setembro.
Detalhamento setorial
Nos serviços, o transporte, as atividades de informação e a administração pública foram os principais motores de crescimento. Na indústria, a extração mineral respondeu pela maior parte do avanço, impulsionada por maiores volumes de petróleo e minério de ferro. A construção civil e a indústria de transformação, por outro lado, registraram variações próximas à estabilidade.

Imagem: REUTERS via agenciabrasil.ebc.com.br
Na agropecuária, a FGV observou recuo em relação ao primeiro trimestre, quando a safra de grãos e oleaginosas havia alcançado patamar recorde. Sem a mesma contribuição do campo, o desempenho geral do PIB brasileiro ficou mais dependente dos serviços.
Perspectivas
Analistas ouvidos pela FGV avaliam que a manutenção da Selic em nível elevado deve continuar moderando o ritmo da atividade até o fim do ano, sobretudo se o consumo das famílias seguir arrefecendo. Entretanto, fatores como a continuidade de investimentos em infraestrutura e eventuais estímulos fiscais podem amenizar a perda de tração nos próximos trimestres.
A projeção do mercado, segundo a pesquisa Focus do Banco Central divulgada na última semana, aponta crescimento em torno de 2% para o PIB de 2025. O cenário, entretanto, permanece sujeito à evolução da política monetária e ao comportamento dos preços internacionais de commodities, que afetam diretamente a balança comercial e a arrecadação do governo.
A confirmação ou revisão dessas estimativas virá com a divulgação dos resultados oficiais do IBGE, enquanto o Monitor do PIB da FGV seguirá oferecendo leitura antecipada sobre a trajetória da atividade econômica.
Faça um comentário